segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O MODERNISMO

O MODERNISMO

No século XX a Europa foi assolada por guerras e revoluções. No século XIX

o movimento artístico que se destacava era o romântico, em que a arte se

baseava em elementos da Natureza. Na filosofia as ideias eram positivistas

e racionais, as normas culturais eram designadas pelo conceito de vitoriano.

O modernismo teve início numa época de crise aguda de dissolução de vários

valores, em que alguns reagiram ao cepticismo social pelo laxismo, agressão

cultural, sarcasmo, exercício gratuito das energias individuais.

Contudo isto, pequenos grupos sociais manifestaram-se por impulsos de outras

vivências.

A sua solução foi mostrá-lo de uma forma estética através de um novo olhar

pelo mundo.

Na literatura os poemas já são banais e gastos. E então que se procura aquilo que se chama

de uma outra dimensão, em que o dia-a-dia e o não estético entram no mundo

das artes.

No caso português, o modernismo foi considerado como um movimento estético que na literatura

surge um grupo de visionários do futuro, são eles Fernando Pessoa, Sá Carneiro e Almada Negreiros.

Tudo surgiu em 1913 em Lisboa, quando Fernando Pessoa e Sá Carneiro tinham participado na revista Águia,

órgão do Saudosismo. Nessa altura ambos trocavam cartas entre si com poemas, tendo ambos

o desejo de poder publicá-los numa revista.

Os modernistas com uma visão futurista para Portugal, mesmo vivendo em

Paris estavam preparados para mudar o pais, com a colaboração de Santa Rita e Luís da Silva

Ramos que haviam lançado uma revista luso-brasileira de nome:

Orpheu, em que Sá e Fernando haviam participado justamente com outros modernistas brasileiros,

passando assim a designar-se a geração do Orpheu. O propósito desta revista era escandalizar

as pessoas com a verdade das coisas e até mesmo gozar com as outras revistas e jornais,

mas devido a falta de dinheiro, a empresa faliu.

Dentro do modernismo existiram outros "ismos":

EXPRESSIONISMO

No campo artístico das artes plásticas:

Os artistas procuravam encontrar um outro lado do rosto sem ser sempre

aquilo que se vê, começando assim uma arte mais abstracta com cores

que não são correspondentes à realidade.

Alguns artistas da época:

Max Pechstein, August Macke, George Grosz

CUBISMO

Não se representava a figura tal como ela é no

espaço, usando assim algumas das formas geométricas para a representação.

Como Picasso dizia "é um meio único para expressar o que conseguimos

entender com os olhos e com o espírito, foi para nós uma fonte de alegrias inesperadas, uma fonte de descobertas."

Alguns artistas da época:

Pablo Picasso, Georges Braque, Fernand Léger

SURREALISMO

O Surrealismo surgiu em tempos de guerra, mais nomeadamente entre as I e a II Guerra Mundiais.

Devido às guerras, grupos de artistas revoltados com a sociedade em que viviam começaram

em pôr em pratica a teoria de Freud. A capacidade que não provinha da visão mas sim do

subconsciente do homem.

Giorgio de Chirico,, Salvador Dalí, Joan Miró.

DADAÍSMO

O dadaísmo foi uma época difícil, onde vários artistas de diversos campos artísticos tentavam,

através de um género de arte, provocar quem a contemplasse, mas de maneira a que rejeitasse

todos os juízos de valor da burguesia da época.

Bárbara, 12º J

Relatório da Visita de Estudo

Relatório da Visita de Estudo

Esta visita teve início às 9 horas da manhã na saída do metro da Baixa-Chiado, em frente ao café Brasileira, com o objectivo das turmas 12º J, K e I contemplarem com outros olhos a Lisboa “pessoana”. O primeiro local de referência e marcante na vida de Fernando Pessoa foi o café Brasileira. Foi neste local que Almada Negreiros e Fernando Pessoa, entre outros, se encontravam e debatiam as suas ideologias revolucionárias (“Centro dos Modernistas”) para darem origem, mais tarde, a uma das revistas e geração mais “chocantes” que viria a revolucionar mentalidades e a influenciar as artes e em conjunto a literatura não tendo quaisquer ideologias políticas associadas e cujo único objectivo era lutar contra o provincianismo português. Surge o termo Geração de Orpheu em 1915.

Leu-se um poema de Bernardo Soares, “A Trovoada” que visa ao complemento desta visita de estudo, dando assim uma visão segundo os sentimentos deste semi-heterónimo de Fernando Pessoa. Para além deste complemento no âmbito do Português, pudemos contar com uma professora de história da cultura e das artes para nos dar uma visão exacta sobre os factos relevantes que marcaram esta época.

Nesta altura pudemo deparar-nos com um Portugal pobre, pouco industrializado, e que necessitava rapidamente de pessoas como Santa-Rita Pintor, Fernando Pessoa, Almada Negreiros entre outros, que contactaram com outros países bastante avançados e que puderam internacionalizar gostos e criar um Portugal dinâmico que até então não havia saído de sucessivas crises.

Ainda no café Brasileira referiu-se o quadro de Almada Negreiros (4 pessoas - Almada Negreiros e sua mulher e mais um casal amigo) e a uma decoração muito revivalista tanto na sua fachada como no seu interior Rocócó, Barroco e com colunas de inspiração grega (coríntia) e a utilização do ferro que era um elemento bastante utilizado neste século.

Dirigimo-nos de seguida para o prédio onde depois da sua juventude e adolescência em Durban, Pessoa viveu com as suas duas tias e avó em frente ao Convento do Carmo e onde escreveu grande parte do livro do Desassossego (1908 - 1912). Leu-se mais alguns textos e de seguida fomos à Igreja dos Mártires onde Fernando Pessoa foi baptizado falando-se das características do edifício que depois do terramoto que devastou Lisboa a política era responder às necessidades de habitação segundo o Marquês de Pombal e a reconstrução de edifícios religiosos ficaria só para a segunda metade do século.

Continuámos, de seguida, até à residência onde Fernando Pessoa nasceu em 1888 no 4º andar e da sua infância no 1º andar desse mesmo prédio de inspiração pombalina e das varandas de Arte Decô em frente ao teatro de São Carlos que se apresenta com uma fachada neoclássica e um interior com inspiração nos teatros europeus cheios de pompa e fortes decorações fazendo contrastes entre interior e exterior (colunas de estilo dórico, simetria absoluta, clareza formal). Ainda se fez referencia à profissão do seu pai, que era crítico de peças de teatro e que inclusivamente escreveu alguns textos sobre o teatro São Carlos. Leu-se um texto de Bernardo Soares sobre as recordações enquanto criança e pudemos analisar a analogia entre o campo e a descrição da baixa pombalina que em recordações nos fala do sino da Igreja (“Sino da minha Aldeia”).

De seguida fomos visitar o Museu do Chiado tendo como objectivo complementar e perceber o quanto foram importantes as novas concepções de arte como a “instalação”, para a recuperação da palavra arte. Esta visita tem como objectivo introduzir a matéria que irá ser leccionada tanto em História como em Português e dar-nos uma importante visão da evolução dos tempos e o quanto foi importante o Modernismo para quebrar as regras sociais e cânones artísticos.

Depois de uma pausa para almoço de cerca de uma hora, o local escolhido para a continuação da visita foi o Miradouro de Santa Catarina onde pudemos encontrar uma estátua do Adamastor (Luís Vaz de Camões – Os Lusíadas) / Mostrengo (Fernando Pessoa – Mensagem) e onde lemos alguns textos tanto dos seus heterónimos Bernardo Soares e Álvaro de Campos como o ortónimo da Mensagem dando-nos uma visão contrastante do olhar peculiar que encarnava em cada personagem. Lemos alguns excertos da Mensagem para captar os versos principais com o objectivo de compreender esta obra épica que nos vai dar um outro olhar, um olhar psicológico dos heróis portugueses retratados n’Os Lusíadas através dos seus feitos físicos comparáveis a Deuses e imortalizados.

Já na rua Nova do Almada a poesia de Bernardo Soares voltou a ganhar destaque, pois é através dele que podemos compreender uma Lisboa com um olhar quase anti-heróico, onde sem qualquer relevância poética profunda e de uma maneira subtil compreendemos o quotidiano nesta época. Através de ruas até ao Terreiro do Paço passámos pela rua 1º de Dezembro lendo mais uma vez Bernardo Soares do livro do Desassossego, pelo Rossio, onde Álvaro de Campos descrevia a despedida do seu amigo Sá Carneiro que ia apanhar o Expresso, pelo café Nicola, pela rua dos Douradores, pela rua dos Fanqueiros no número 144ª a firma Palhares Almeida e Silva onde trabalhava, e por último o café/ restaurante Martinho da Arcada tendo assim por terminado a nossa visita de estudo.

Bernardo, 12º J

“Uma Lisboa em Pessoa”

Relatório da Visita de Estudo – “Uma Lisboa em Pessoa”

Disciplina de Português

Dia 21 de Novembro pelas 8:58| 8:59 estava eu a subir as escadas do metro da Baixa – Chiado quando comecei a ver um grande aglomerado de pessoas. Entre elas estavam as minhas Professoras: de Português, Risoleta Pedro, de Historia da Cultura e das Artes, Cesaltina Pedro também se encontrava outra professora de Historia da Cultura e das Artes, Maria José e por fim os meus colegas de turma bem como os da turma J e K.

Fig. 1

Assim começou a minha visita, quando me juntei ao grupo alguém já estava a ler, mas eu não me recordo e como não estava a acompanhar, decidi fotografar a estátua de Fernando Pessoa (Fig. 1) que se encontra na esplanada do café “A Brasileira”, (Fig. 2) local de partida da visita. O café “A Brasileira” é um local de grande relevância, pois era neste café e também no Martinho da Arcada (como vimos nos final da visita) que se realizavam as tertúlias a que Pessoa fazia questão de estar presente.

Fig. 2


Depois da leitura a professora Maria José falou um pouco da arquitectura romântica lisboeta. Quando acabou, seguimos para o Largo de Carmo para conhecermos o 1º Esq. do Nº 18, (Fig.3) local onde Pessoa viveu entre 1808/1912.

Fig. 1

A Maria e Teresa da turma I leram um texto de Bernardo Soares. Permanecemos no largo durante algum tempo, a fim de tirar fotografias para completar o relatório pedido pela professora Risoleta Pedro.

Descemos até à Igreja dos Mártires (Fig.4) onde Fernando Pessoa foi baptizado, a professora Risoleta leu. Após esta breve paragem seguimos em direcção ao local mais importante (na minha opinião) da visita, o Largo de São Carlos onde no 4º andar (Fig.5) nasceu o grande poeta português Fernando Pessoa. Aqui, o Bernardo leu um poema, intitulado:



Fig. 3


A aldeia em que nasci foi o Largo de S. Carlos”

Fig. 4

Fig. 5

“Ó sino da minha aldeia
Dolente na tarde calma
Cada tua badalada
Soa dentro de minh'alma
e é tão lento o teu soar
Tão como triste da vida
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida

Por mais que me tanjas perto
Quando passo sempre errante
És para mim como um sonho
Soas-me na alma distante
A cada pancada tua
Vibrante no céu aberto
Sinto mais longe o passado
Sinto a saudade mais perto”

Após as leituras relacionadas com a disciplina de português, a professora de H.C.A, Maria José, voltou a dirigir a nossa atenção para a Lisboa Neoclássica, falando das cores empregues nos edifícios desta época, sendo as mais usuais o amarelo claro/torrado, o cor-de-rosa e o roxo. Balizou o Teatro de São Carlos (Fig.6) como pertencente ao Neoclássico Português. Deu também outro exemplo de um edifício do mesmo estilo, o Palácio da Ajuda.

Mantendo o ritmo, continuámos para o Museu do Chiado, onde tivemos a oportunidade de ver a exposição temporária: “Centre Pompidou – Novos Média” onde ficámos a conhecer instalações, projectos vídeo efectuados aquando da exploração dos “média” como forma de expressão. Registei alguns artistas bem como os títulos das suas obras:



Fig. 6


  • Tony Oursler – Vídeo vigilância
  • Nam June Paik – Moon is the oldest TV
  • Dan Gratiam – Present Continuous Past
  • Chris Marker
  • Star Douglas – Hors Champs
  • Martial Roysse – Identité
  • Peter Campus – Interface
  • Samuel Beckett – Arena Quad I + II

Pessoalmente, não me sinto muito cativada por este tipo de expressão, não me transmite muito, mas gostei de conhecer algumas obras.

Como na aula antes da visita, a professora Risoleta comunicou que teríamos de escolher uma obra e falar sobre ela eu escolhi um projecto de vídeo.

Devem-me estar a perguntar porquê?

Pois é, não prestei atenção a todas as indicações dadas pela professora na aula, senão tinha entendido que não tinha de escolher uma obra daquela exposição.

Uma vez que a professora queria um comentário a um quadro da época de Pessoa, um quadro modernista ou pós – modernista provavelmente uma pintura do seu amigo Almada Negreiros. Só me apercebi que não vimos a exposição, que a professora tinha em mente no fim da visita, pois fiquei a falar com a nossa guia e depois a professora Risoleta interveio a perguntar pela colecção do Museu, essa colecção, sim, reúne obras de Almada Negreiros e de outros artistas da época.

Voltando ao projecto de vídeo, escolhi Arena Quad I + II de Samuel Beckett – que representa a procura da identidade pessoal. Na minha opinião pode também ser interpretada como o nosso dia-a-dia, muitas vezes andamos “presos” às voltas a tentar encontrar o nosso caminho, a tentar alcançar os objectivos que estipulados para nós próprios e muitas vezes esbarramos contra obstáculos, voltando ao ponto zero (centro do cubo).

Quando acabou a visita à exposição, já estávamos todos desejosos de almoçar, dirigimo-nos para o miradouro de Santa Catarina, acabando assim a primeira parte da visita.

O almoço foi calmo, apesar de quando cheguei ao miradouro descobri que não era muito bem frequentado, ninguém nos chateou, é uma verdade, mas confesso que estava um pouco receosa em relação às pessoas que lá estavam.

Principalmente porque tinha o meu colega David da turma I a correr atrás dos pombos, só estava à espera do momento em que algum dos frequentadores do miradouro viesse meter conversa. Mas correu tudo bem, a vista do miradouro era agradável não se pode dizer linda, porque o que mais víamos era o cais de embarque e algumas fábricas. Enfim a vista da Lisboa “comercial”.

Mais ou menos à hora marcada, a professora Risoleta chamou-nos para iniciarmos a segunda parte da visita. No miradouro foram lidos alguns poemas: a Subtil leu Álvaro de Campos, o Bernardo leu “Ode Marítima”, o Macedo leu um excerto do “Livro do Desassossego” e em conjunto a Teresa e a Maria leram “ O Monstrengo”.

Esta última leitura estava muito bem enquadrada, uma vez que no miradouro de Santa Catarina encontra-se uma estátua do Adamastor.

Seguimos para os Restauradores. Já na frente da estação do Rossio ficámos a conhecer o local (um café que existia na altura mas actualmente é o edifício da Caixa Geral de Depósitos) de onde Fernando Pessoa observava a sua namorada Ophélia.

O prédio onde Ophélia habitava situava-se na rua em frente ao café, na Rua 1º de Dezembro (Fig.7).



Fig. 7


Fig. 1

Neste momento o nosso grupo (constituído pelas três turmas), já se encontrava reduzido... talvez pelo cansaço, alguns dos meus colegas terminaram a visita mais cedo.

Continuámos em direcção à Praça de D. Pedro onde o Edgar leu. Passámos ainda pelo Animatógrafo do Rossio antes de nos dirigirmos para a Praça da Figueira para ter como fundo das nossas leituras, o castelo de São Jorge.

Continuámos pela Rua dos Fanqueiros para conhecemos o 1º andar do Nº 44 (Fig.8), local onde Pessoa trabalhou num escritório.

Já a um ritmo mais lento dirigimo-nos até ao último ponto da visita, o café Martinho da Arcada (Fig.9), no Terreiro do Paço. Tirámos algumas fotografias do interior (Fig.10). Um dos empregados do café expressou o seu gosto e admiração por Fernando Pessoa, ofereceu-nos um postal com uma fotografia de Pessoa e no verso um poema de Álvaro de Campos “Dobrada à moda do Porto”.

O senhor esteve um tempo à conversa connosco e com a professora Risoleta, disse que ali passavam muitas excursões de todo o país, só para ficarem a conhecer um dos cafés que o poeta mais frequentava.

Já todos cansados, sentámo-nos nas cadeiras do Martinho da Arcada, ali passámos alguns minutos ali, até que a professora Risoleta terminou a visita. Dizendo uma frase que eu gostei muito de ouvir: “Parabéns aos que conseguiram chegar até ao fim da visita”. Foi muito agradável ouvir estas palavras pois estávamos todos muito cansados e aquela frase foi o reconhecimento dado por parte da professora.







Fig. 8



Fig. 8







Fig. 9


Fig. 10


Maria Galhano Nº 17 12º I

Lisboa, 27 Novembro de 2007

domingo, 9 de dezembro de 2007

Relatório da aula de Português do dia 25 de Outubro de 2007;

Deu-se inicio à aula com o aluno ………. a ler o diário da aula passada, o qual deveria ser mais pessoal, segundo a avaliação da professora. O relatório não foi apresentado pela aluna ……………, que se comprometeu a apresentá-lo na próxima aula.

Entretanto, a professora relembra à turma a entrega das confirmações de presença dos encarregados de educação na reunião que se realizava nesse mesmo dia ao fim da tarde e, aproveita para falar sobre a tolerância das faltas e das suas respectivas justificações.

Depois a professora começa por ler um excerto do livro O Capitão Passanha, de Mário de Carvalho, que vem a propósito do mar e da viagem relatada n’ Os Lusíadas, onde um barco de piratas chineses é salvo pelo barco que transporta Maria Eduarda.

Seguidamente a professora começa a explicar o teste e a matéria que irá sair, relembrando que esta estará disposta na matriz que se encontrará no blogue ijotakapa.blogspot.com.

Assim, sairá no teste uma estrofe de um episódio já estudado d’Os Lusíadas, que deverá ser analisada gramaticalmente. Nas perguntas de interpretação, haverá perguntas directas sobre aspectos relacionados com o estudo d’Os Lusíadas (como a sua estrutura externa e interna; a distinção entre narração e de descrição; os três planos narrativos; etc.). Haverá também um texto para completar, texto esse que poderá ter como tema um dos cinco que a professora propôs para uma pergunta de desenvolvimento no teste (Renascimento, Classicismo e Humanismo; A epopeia Clássica; o Tempo de Camões; a Linguagem n’Os Lusíadas e a Mitologia n’Os Lusíadas). Por fim, foram relembradas as figuras de estilo estudadas (Metáfora; Hipérbole; Animização; Personificação; Apóstrofe; Neologismos; Arcaísmos; Sinédoque; Metonímia; Antítese; Paradoxo; Aliteração; Anáfora; Perífrase) e explicada a diferença entre Personificação e Animização (Sendo a personificação a atribuição de características humanas a animais ou coisas e a Animização a atribuição de características animadas a seres humanos ou coisas).

Depois da explicação da matriz, deu-se início à continuação da aula anterior sobre o estudo d’Os Lusíadas, respectivamente o episódio de Inês de Castro (página número 47), começando por relembrar à turma que a obra é escrita na narrativa, mas com momentos líricos, que se apresentam normalmente em desabafos do poeta no final dos cantos mas também em alguns episódios, como o de Inês de Castro, escritos com uma função emotiva ou expressiva.

Seguidamente deu-se início à análise da estrofe número 118, com especial atenção ao arcaísmo no significado da palavra “mesquinha” relativamente a D.Inês de Castro, que aparece no contexto de fragilidade e de desprotegida.

Por fim, a professora procede à leitura do poema de João Miguel Fernandes Jorge – “De como el rei D.Pedro disse a D.Inês por sua mulher recebida e da maneira como ele a teve”, e para finalizar a aula pergunta por dúvidas para esclarecer e relembra que só sairão episódios já estudados.

Joana Rosa, nº11 / 12ºK

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Visita "Pessoa"

E, finalmente, o repouso...





Terreiro do Paço
Vou num carro eléctrico, e estou reparando lentamente, conforme é meu costume, em todos os pormenores das pessoas que vão adiante de mim. Para mim os pormenores são coisas, vozes, letras. [...]Entonteço. Os bancos do eléctrico, de um entretecido de palha forte e pequena, levam-me a regiões distantes, multiplicam-se-me em indústrias, operários, casas de operários, vidas, realidades, tudo. Saio do carro exausto e sonâmbulo. Vivi a vida inteira.» (Bernardo Soares. Fragmento do Livro do Desassossego)



MARTINHO DA ARCADA
Nas praças vindouras — talvez as mesmas que as nossas —
Que elixires serão apregoados?
Com rótulos diferentes, os mesmos do Egipto dos Faraós;
Com outros processos de os fazer comprar, os que já são nossos.
E as metafísicas perdidas nos cantos dos cafés de toda a parte,
As filosofias solitárias de tanta trapeira de falhado,
As ideias casuais de tanto casual, as intuições de tanto ninguém —
Um dia talvez, em fluido abstracto, e substância implausível,
Formem um Deus, e ocupem o mundo.
Mas a mim, hoje, a mim
Não há sossego de pensar nas propriedades das coisas,
Nos destinos que não desvendo,
Na minha própria metafísica, que tenho porque penso e sinto
Não há sossego,
E os grandes montes ao sol têm-no tão nitidamente!
[…]
Álvaro de Campos




«Em flagrante "delitro"»



"Se um homem escreve bem só quando está bêbado dir-lhe-ei: embebede-se. E se ele me disser que o seu fígado sofre com isso respondo: o que é o seu fígado? é uma coisa morta que vive enquanto você vive, e os poemas que escrever vivem sem enquanto. "



Amanda lendo



Jorge lendo



RUA DA PRATA
Senti-me feliz por não poder. sentir-me infeliz. Desci a rua descansadamente, cheio de certeza, porque enfim, o escritório conhecido, a gente conhecida nele, eram certezas. Não admira que me sentisse livre, sem saber de quê. Nos cestos poisados à beira dos passeios da Rua da Prata as bananas de vender, sob o sol, eram de um amarelo grande.
Bernardo Soares, Livro do Desassossego



RUA DOS DOURADORES



Hoje, em um dos devaneios sem propósito nem dignidade que constituem grande parte da substância espiritual da minha vida, imaginei-me liberto para sempre da Rua dos Douradores, do patrão Vasques, do guarda-livros Moreira, dos empregados todos, do moço, do garoto e do gato. Senti em sonho a minha libertação, como se mares do Sul me houvessem oferecido ilhas maravilhosas por descobrir. Seria então o repouso, a arte conseguida, o cumprimento intelectual do meu ser.
[…]
Aliás, se amanhã me apartasse deles todos, e despisse este trajo da Rua dos Douradores, a que outra coisa me chegaria – porque a outra me haveria de chegar?, de que outro trajo me vestiria – porque de outro me haveria de vestir?
Todos temos o patrão Vasques, para uns visível, para outros invisível. Para mim chama-se realmente Vasques, e é um homem sadio, agradável, de vez em quando brusco mas sem lado de dentro, interesseiro mas no fundo justo, com uma justiça que falta a muitos grandes gênios e a muitas maravilhas humanas da civilização, direita e esquerda. Para outros será a vaidade, a ânsia de maior riqueza, a glória, a imortalidade... Prefiro o Vasques homem meu patrão, que é mais tratável, nas horas difíceis, que todos os patrões abstratos do mundo.
Considerando que eu ganhava pouco, disse-me o outro dia um amigo, sócio de uma firma que é próspera por negócios com todo o Estado: “você é explorado, Soares”. Recordou-me isso de que o sou; mas como na vida temos todos que ser explorados, pergunto se valerá menos a pena ser explorado pelo Vasques das fazendas do que pela vaidade, pela glória, pelo despeito, pela inveja ou pelo impossível.
Há os que Deus mesmo explora, e são profetas e santos na vacuidade do mundo.
E recolho-me, como ao lar que os outros têm, à casa alheia, escritório amplo, da Rua dos Douradores. Achego-me à minha secretária como a um baluarte contra a vida. Tenho ternura, ternura até às lágrimas, pelos meus livros de outros em que escrituro, pelo tinteiro velho de que me sirvo, pelas costas dobradas do Sérgio, que faz guias de remessa um pouco para além de mim. Tenho amor a isto, talvez porque não tenha mais nada que amar – ou talvez, também, porque nada valha o amor de uma alma, e, se temos por sentimento que o dar, tanto vale dá-lo ao pequeno aspecto do meu tinteiro como à grande indiferença das estrelas.

Ah, compreendo! O patrão Vasques é a Vida. A Vida, monótona e necessária, mandante e desconhecida. Este homem banal representa a banalidade da Vida. Ele é tudo para mim, por fora, porque a Vida é tudo para mim por fora. E, se o escritório da Rua dos Douradores representa para mim a vida, este meu segundo andar, onde moro, na mesma Rua dos Douradores, representa para mim a Arte. Sim, a Arte, que mora na mesma rua que a Vida, porém num lugar diferente, a Arte que alivia da vida sem aliviar de viver, que é tão monótona como a mesma vida, mas só em lugar diferente. Sim, esta Rua dos Douradores compreende para mim todo o sentido das coisas, a solução de todos os enigmas, salvo o existirem enigmas, que é o que não pode ter solução.




Bernardo Soares


RUA DO ARSENAL, RUA DA ALFÂNDEGA

Amo, pelas tardes demoradas de verão, o sossego da cidade baixa, e sobretudo aquele sossego que o contraste acentua na parte que o dia mergulha em mais bulício. A Rua do Arsenal, a Rua da Alfândega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para leste desde que a da Alfândega cessa, toda a linha separada dos cais quedos – tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solidão do seu conjunto. Vivo uma era anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele. Por ali arrasto, até haver noite, uma sensação de vida parecida com a dessas ruas. De dia elas são cheias de um bulício que não quer dizer nada; de noite são cheias de uma falta de bulício que não quer dizer nada. Eu de dia sou nulo, e de noite sou eu. Não há diferença entre mim e as ruas para o lado da Alfândega, salvo elas serem ruas e eu ser alma, o que pode ser que nada valha, ante o que é a essência das coisas. Há um destino igual, porque é abstracto, para os homens e para as coisas – uma designação igualmente indiferente na álgebra do mistério.



Bernardo Soares































A Lisboa de Pessoa, continuação

O Pedro

RUA PRIMEIRO DE DEZEMBRO

“Depois veio a vida. Nessa noite levaram-me a cear ao leão. Tenho ainda a memória dos bifes no paladar da saudade – bifes, sei ou suponho, como hoje ninguém faz ou eu não como. E tudo se me mistura - infância vivida e distância, comida saborosa de noite, cenário lunar, Verlaine futuro e eu presente – numa diagonal difusa, num espaço falso entre o que fui e o que sou.”
Bernardo Soares, Livro do Desassossego (16-10-1931)
O João
RUA NOVA DO ALMADA

Descendo hoje a Rua Nova do Almada, reparei nas costas do homem que a descia adeante de mim. Eram as costas vulgares de um homem qualquer, o casaco de um fato modesto num dorso de transeunte ocasional. Levava uma pasta velha debaixo do braço esquerdo, e punha no chão, no rythmo de andando, um guarda-chuva enrolado, que trazia pela curva na mão direita.Senti de repente uma coisa parecida com ternura por esse homem. Senti nelle a ternura que se sente pela vulgaridade humana, pelo banal quotidiano do chefe de familia que vae para o trabalho, pelo lar humilde e alegre d'elle, pela inocencia de viver sem analysar, pela naturalidade animal d'aquellas costas vestidas.
Ora as costas d'este homem dormem. Todo elle, que caminha adeante de mim com passada egual à minha, dorme. Vae inconsciente. Vive inconsciente. Dorme, porque todos dormimos. Toda a gente é um sonho. Ninguém sabe o que faz. Dormimos a vida inteira, eternas creanças do Destino. Por isso sinto uma ternura informe e immensa por toda a humanidade infantil, por toda vida social dormente, por todos , por tudo.
Livro do Desassossego - Bernardo Soares


Depois do Teatro,descemos a Rua Garrett e a Rua Nova do Almada. Chegados à Baixa, podemos sentir ainda a cidade de Pessoa. Todos os bancos e sedes de firmas comerciais estavam na Rua da Prata ou na Rua do Ouro. Foi em algumas destas firmas comerciais da Rua da Prata que Fernando Pessoa trabalhou, como correspondente de inglês, pelo seu domínio da língua, raro entre os portugueses daquele tempo. Mas recusou sempre um emprego fixo. Preferia andar de escritório em escritório, livremente, dedicando-se à sua escrita. O Livro do Desassossego e muitos outros textos, foi escrito nos escritórios da Baixa, principalmente no primeiro andar da Ourivesaria Moitinho. Ao almoço, Pessoa atravessava para a Rua dos Douradores, onde situou a vida de um dos seus heterónimos.

O João
ESTAÇÃO DO ROSSIO
O ter deveres, que prolixa coisa! Agora tenho eu que estar à uma menos cinco Na Estação do Rocio, tabuleiro superior — despedida Do amigo que vai no "Sud Express" de toda a gente Para onde toda a gente vai, o Paris... Tenho que lá estar E acreditem, o cansaço antecipado é tão grande Que, se o "Sud Express" soubesse, descarrilava... Brincadeira de crianças? Não, descarrilava a valer... Que leve a minha vida dentro, arre, quando descarrile!... Tenho desejo forte, E o meu desejo, porque é forte, entra na substância do mundo.
Álvaro de Campos



Edgar
ROSSIO
O Rossio. Foi aqui que Pessoa muitas vezes se encontrou com outro poeta, Mário de Sá-Carneiro, com quem manteve profundas trocas intelectuais. Dos cafés do Rossio, por onde Fernando Pessoa andou, já só resta o Nicola, que começou a funcionar em 1929. O poeta passou muito do seu tempo à mesa dos cafés, onde pensou e escreveu grande parte da sua obra literária.

Sobre a Baixa, diz Pessoa-Soares:
“No nevoeiro leve da manhã de meia primavera, a Baixa disperta entorpecida e o sol
nasce como que lento. Há uma alegria socegada no ar com metade de frio, e a vida, ao
sopro leve da brisa que não há, tirita vagamente do frio que já passou [...] Não abriram
ainda as lojas, salvas as leiterias e os cafés, mas o repouso não é de torpor, como o de
domingo; é de repouso apenas. [...] nas poucas janellas abertas, altas, madrugam
também apparecimentos. [...] de minuto a minuto, sensivelmente, as ruas desdesertam-
se. [...] Accordo de mim e, [...] vejo que a nevoa que sahiu de todo do céu [...] me
entrou verdadeiramente para a alma, e ao mesmo tempo entrou para a parte de dentro
de todas as coisas, que é por onde ellas teem contacto com a minha alma....”


Saí de casa cedo. Almocei no Restaurante Pessoa*, mediante empréstimo de João Correia de Oliveira. Depois fui encontrar-me com o Garcia Pulido na Brasileira do Rossio. Falámos até às 2 ½. Devido ao advento de alguns indivíduos proprietários, a conversa, atravessando a lei da contribuição predial, descambou em horrorosamente depressiva.
Página de um diário (27-3-1913) * Rua dos Douradores





David
ROSSIO
Acordar
Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras, Acordar da Rua do Ouro, Acordar do Rocio, às portas dos cafés, Acordar E no meio de tudo a gare, que nunca dorme, Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono. Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar, Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo. À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma, E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo. […}
Álvaro de Campos


[…] Cheguei, num momento feliz de visão etérica, a ver, na Brasileira do Rossio, de manhã as costelas de um indivíduo através do fato e da pele. Isto é que a visão etérica no seu pleno grau. Chegarei eu a tê-la realmente, isto é, mais nítida e sempre que quiser? A ‘visão astral’ está muito imperfeita. Mas às vezes, de noite, fecho os olhos e há uma sucessão de pequenos quadros, muitos rápidos, muito nítidos (tão nítidos como qualquer coisa do mundo exterior). Há figuras estranhas, desenhos, sinais simbólicos, números (também já tenho visto números), etc. E há - o que é uma sensação muito curiosa - por vezes a sentir-me de repente pertença de qualquer outra coisa. O meu braço direito, por exemplo, começa a ser-me levantado no ar sem eu querer. ( É claro que posso resistir, mas o fato é que não o quis levantar nessa ocasião). Outras vezes sou feito cair par um lado, como se estivesse magnetizado, etc.[…]
Carta à tia Anica (Ana Luiza Pinheiro Nogueira 24-06- 1916)


O CASTELO


Ergo a cabeça/ de passeante/ e vejo que, sobre a encosta do Castelo, o poente oposto arde em dezenas de janelas, num reverbero alto de fogo frio. À roda desses olhos de chama dura toda a encosta é suave ao fim do dia. Posso ao menos sentir-me triste e ter a consciência de que , com esta minha tristeza se cruzou agora – visto com ouvido – o som súbito do eléctrico que passa, a voz casual dos conversadores jovens, o sussurro esquecido da cidade viva./ Há muito tempo que não sou eu.
Livro do desassossego (8-1-1931)





Berna
Bernardo
PRAÇA DA FIGUEIRA
RUA DA BETESGA, PRAÇA DA FIGUEIRA
“No escritório do Mayer desde as 15 ½ até às 18 ¼ ou 18 ½. Copiei parte da carta para o Natal. A máquina desarranjou-se. Escrevi bovcados do “Marcos Alves” e do “Filatelista”. Ideei finalmente a personagem do Marcos Alves, “Fixei” o Filatelista também. A “ideação” foi principalmente num pequeno passeio até ao Rossio em que cortei a estadia no escritório.”
Fernando Pessoa (fragmento de um diário, 16-2-1913)
RUAS DOS DOURADORES, BETESGA, PRATA, FANQUEIROS
"Saudades! Tenho-as até do que me não foi nada, por uma angústia de fuga do tempo e uma doença do mistério da vida. Caras que via habitualmente nas minhas ruas habituais - se deixo de vê-las entristeço; e não me foram nada, a não ser o símbolo de toda a vida. (...) O que é feito de todos eles, que, porque os vi e os tornei a ver, foram parte da minha vida? Amanhã também eu sumirei da Rua da Prata, da Rua dos Douradores, da Rua dos Fanqueiros. Amanhã também eu - alma que sente e pensa, o universo que sou pra mim - sim, amanhã eu também serei o que deixou de passar nestas ruas, o que outros vagamente evocarão com um 'o que será dele?'. E tudo quanto faço, tudo quanto sinto, tudo quanto vivo, não será mais que um transeunte a menos na quotidianidade de ruas em uma cidade qualquer."
Fernando Pessoa, em O Livro do Desassossego.

"Há sossegos de campo na cidade. Há momentos (...) em que, nesta Lisboa luminosa, o campo, como um vento, nos invade. E aqui mesmo, na Rua dos Douradores, temos o bom sono"
Bernardo Soares



















Continuação da visita de estudo à Lisboa Pessoana- MIRADOURO DE SANTA CATARINA


A professora Cesaltina, de História da Cultura e das Artes
ULISSES
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo
O corpo morto de Deus,Vivo e desnudo. Este, que aqui aportou,
por não ser existindo.Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou. Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade.
E a fecundá-la decorre.
Embaixo, a vida, metade
De nada, morre.
Mensagem, Fernando Pessoa

D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL
Louco, sim, louco, porque quis grandeza/Qual a Sorte a não dá.Não coube em mim minha certeza;/Por isso onde o areal está/Ficou o meu ser que houve, não o que há. Minha loucura, outros que me a tomem/Com o que nela ia.Sem a loucura que é o homem/Mais que a besta sadia,/Cadáver adiado que procria?
Mensagem, Fernando Pessoa

"Nós outros sem a vista alevantarmos Nem a mãe, nem a esposa, neste estado, Por nos não magoarmos, ou mudarmos Do propósito firme começado, Determinei de assim nos embarcarmos Sem o despedimento costumado, Que, posto que é de amor usança boa, A quem se aparta, ou fica, mais magoa. 94 - ( O velho do Restelo ) "Mas um velho d'aspeito venerando, Que ficava nas praias, entre a gente, Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada um pouco alevantando, Que nós no mar ouvimos claramente, C'um saber só de experiências feito, Tais palavras tirou do experto peito: 95 —"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C'uma aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles experimentas!
Os Lusíadas, Luís de Camões
Teresa, Maria, Pedro lêem
«O Tejo ao fundo é um lago azul, e os montes da Outra Banda são de uma Suíça achatada. Sai um navio pequeno - vapor de carga preto - dos lados do Poço do Bispo para a barra que não vejo. Que os Deuses todos me conservem, até à hora em que cesse este meu aspecto de mim, a noção clara e solar da realidade externa, o instinto da minha inimportância, o conforto de ser pequeno e de poder pensar em ser feliz.»
(Livro do Desassossego: Composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa / Fernando Pessoa)

Leitura por João

(...) Ah, todo o cais é uma saudade de pedra! E quando o navio larga do cais E se repara de repente que se abriu um espaço Entre o cais e o navio, Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente, Uma névoa de sentimentos de tristeza Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas Como a primeira janela onde a madrugada bate, E me envolve como uma recordação duma outra pessoa Que fosse misteriosamente minha. (...) -
Álvaro de Campos – Ode Marítima (Orpheu, 1915)


(...) Ah, todo o cais é uma saudade de pedra! E quando o navio larga do cais E se repara de repente que se abriu um espaço Entre o cais e o navio, Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente, Uma névoa de sentimentos de tristeza Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas Como a primeira janela onde a madrugada bate, E me envolve como uma recordação duma outra pessoa Que fosse misteriosamente minha. (...) - Álvaro de Campos – Ode Marítima (Orpheu, 1915) «O Tejo ao fundo é um lago azul, e os montes da Outra Banda são de uma Suíça achatada. Sai um navio pequeno - vapor de carga preto - dos lados do Poço do Bispo para a barra que não vejo. Que os Deuses todos me conservem, até à hora em que cesse este meu aspecto de mim, a noção clara e solar da realidade externa, o instinto da minha inimportância, o conforto de ser pequeno e de poder pensar em ser feliz.»
(Livro do Desassossego: Composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa / Fernando Pessoa)



O MOSTRENGO
O mostrengo que está no fim do mar/Na noite de breu ergueu-se a voar;/À roda da nau voou três vezes,/três vezes a chiar,/ E disse: «Quem é que ousou entrar/Nas minhas cavernas que não desvendo,/Meus tectos negros do fim do mundo?»/E o homem do leme disse, tremendo:/ «El-Rei D. João Segundo!»/«De quem são as velas onde me roço?/De quem as quilhas que vejo e ouço?»/Disse o mostrengo, e rodou três vezes,/ Três vezes rodou imundo e grosso./«Quem vem poder o que só eu posso,/Que moro onde nunca ninguém me visse/E escorro os medos do mar sem fundo?» E o homem do leme tremeu, e disse:/«El-Rei D. João Segundo!»/Três vezes do leme as mãos ergueu,/Três vezes ao leme as reprendeu, E disse no fim de tremer três vezes:/«Aqui ao leme sou mais do que eu:/Sou um povo que quer o mar que é teu;/E mais que o mostrengo, que me a alma teme/ E roda nas trevas do fim do mundo,/Manda a vontade, que me ata ao leme,/El-Rei D. João Segundo!» Fernando Pessoa in Mensagem Tão grande era de membros, que bem posso/Certificar-te que este era o /Rodes estranhíssimo Colosso,/um dos sete milagres foi do mundo./Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,/Que pareceu sair do mar profundo./Arrepiam-se as carnes e o cabelo,/A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!/
41«E disse: "Ó gente ousada, mais que quantas/No mundo cometeram grandes cousas,/Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,/E por trabalhos vãos nunca repousas,/Pois os vedados términos quebrantas/E navegar meus longos mares ousas,/Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,/Nunca arados de estranho ou próprio lenho;[…]
«Mais ia por diante o monstro horrendo,/Dizendo nossos Fados, quando, alçado,/Lhe disse eu: "Quem és tu? Que esse estupendo/Corpo, certo, me tem maravilhado!"/A boca e os olhos negros retorcendo/E dando um espantoso e grande brado,/Me respondeu, com voz pesada e amara,/Como quem da pergunta lhe pesara:/
50"Eu sou aquele oculto e grande Cabo/A quem chamais vós outros Tormentório, […] "Oh! Que não sei de nojo como o conte!/Que, crendo ter nos braços quem amava,/Abraçado me achei cum duro monte/De áspero mato e de espessura brava./Estando cum penedo /, junto dum penedo, outro penedo! […] 59"Converte-se-me a carne em terra dura;/Em penedos os ossos se fizeram;/Estes membros, que vês, e esta figura/Por estas longas águas se estenderam./Enfim, minha grandíssima estatura/Neste remoto Cabo converteram/Os Deuses; e, por mais dobradas mágoas,/Me anda Thetis cercando destas águas."
60«Assi contava; e, cum medonho choro,/Súbito de ante os olhos se apartou./Desfez-se a nuvem negra, e cum sonoro/Bramido muito longe o mar soou.[…]
Os Lusíadas, de Luís de Camões




Ana lê
[…]
Outra vez te revejo, Cidade da minha infância pavorosamente perdida... Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui... Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei, E aqui tornei a voltar, e a voltar. E aqui de novo tornei a voltar? Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram, Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória, Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim? Outra vez te revejo, Com o coração mais longínquo, a alma menos minha. Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -, Transeunte inútil de ti e de mim, Estrangeiro aqui como em toda a parte, Casual na vida como na alma, Fantasma a errar em salas de recordações, Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem No castelo maldito de ter que viver...
Lisbon revisited (1926), Álvaro de Campos