quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Tautologia

Sabes o que é "tautologia"?

É o termo usado para definir um dos vícios de linguagem. Consiste na repetição de uma ideia de maneira viciada, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido.
O exemplo clássico é o famoso 'subir para cima' ou o 'descer para baixo'. Mas há outros, como podes ver na lista a seguir:

- elo de ligação
- acabamento
final
- certeza
absoluta
- quantia
exacta
- nos dias 8, 9 e 10,
inclusive
- juntamente
com
-
expressamente proibido
- em duas metades
iguais
- sintomas
indicativos
- há anos
atrás
- vereador
da cidade
-
outra alternativa
- detalhes
minuciosos
- a razão é
porque
- anexo
junto à carta
- de sua
livre escolha
- superávit
positivo
-
todos foram unânimes
- conviver
junto
- facto
real
- encarar
de frente
- multidão
de pessoas
- amanhecer
o dia
- criação
nova
- retornar
de novo
- empréstimo
temporário
- surpresa
inesperada
- escolha
opcional
- planear
antecipadamente
- abertura
inaugural
-
continua a permanecer
- a
última versão definitiva
-
possivelmente poderá ocorrer
- comparecer
em pessoa
- gritar
bem alto
- propriedade
característica
-
demasiadamente excessivo
- a seu critério
pessoal
- exceder
em muito
- protagonista principal
Nota que todas estas repetições são dispensáveis.
Por exemplo, existe alguma surpresa esperada? É óbvio que não.
Devemos evitar o uso das repetições desnecessárias. Fica atento/a às expressões que utilizas no teu dia-a-dia.

Diário de Português

Entrei na sala de aula um pouco mal disposto, mas não foi isso que me impediu de estar atento e receptivo a todo o mundo de poesia do grande mestre Fernando Pessoa ou o desprezo incrível de Almada Negreiros pelo Dantas. Como sempre, iniciámos com a leitura de um conto de Italo Calvino. Este foi, sem dúvida, o melhor conto até agora lido, não que os anteriores tenham sido maus, no entanto, identifiquei-me bastante e criou-me uma certa revolta face ao comodismo a que todas as pessoas são habituadas. Na história, o exemplo um pouco tosco do “jogo do mata” era nada mais do que uma metáfora do quotidiano de trabalho e casa a que as pessoas se habituam. Esquecemo-nos por vezes dos verdadeiros valores, aqueles valores que são aprisionados pelos “mandatários” que regem a nossa vida. A frase marcante que escolhi para o trabalho que iremos realizar no final do 2º Período demonstra bem tudo aquilo a que me refiro “como as proibições vinham umas atrás das outras”.

Depois daquela divagação pessoal ao som da voz aguda e num tom calmo da professora, que dava ao texto uma certa delicadeza, passámos em tom grave e despreocupado à leitura do “Ópiário” de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Esta era a primeira fase, a fase decadentista em que ele se encontrava desinteressado e cansado por tudo aquilo que o rodeava. Era o início de tudo, o início que mais tarde viria dar origem à Ode Marítima e à Ode Triunfal, em que se vai interessar por tudo e fica totalmente fascinado pela máquina e por toda a evolução de uma nova sociedade. Devido à tal má disposição que referi anteriormente, senti o texto ainda mais pesado, senti todo aquele desconforto do autor, naquele momento. Ao longo de frases como “onde o pormenor é uma descida” e “trabalhei só para ter cansaço” demonstra bem tudo aquilo que escrevo neste diário e todo o meu sentimento de revolta face à inércia do quotidiano e de tudo aquilo a que somos habituados. Apesar das diferentes maneiras de escrita, senti uma certa semelhança nos dois textos, pois ambos retratam a revolta do ser.

Deixando o tom pesado e a crítica ao quotidiano, entramos numa crítica bastante mais leve e num certo tom de desprezo em que o autor Almada Negreiros atribuía a tudo a que Dantas representava, o que me fez ainda esboçar alguns sorrisos. Foi numa leitura pausada e muito acentuada que pudemos ouvir o “Manifesto Anti-Dantas” que é muito mais do que apenas um escárnio desmedido a uma pessoa, mas sim a um conjunto de pessoas que mantinham a literatura e toda a evolução agarrada a valores Românticos e Ultra-Românticos. Numa época de contestários e ,eles apenas queriam era chocar Portugal. Como Almada Negreiros, muitos outros o fizeram e um dos grandes exemplos que veio a chocar foi a revista Orpheu que pretendeu, em conjunto com a restante arte, agitar e inovar tudo aquilo a que Portugal se encontrava preso, a tudo aquilo a que Almada se referia como Dantas. É ao longo do Manifesto que eu percebo a atitude radicalista, onde mesmo tendo feito um trabalho sobre tal Geração nunca pude imaginar a dimensão sobre a dureza das críticas. Durante o texto ainda houve espaço para mais do que uma critica ao Dantas, mas também uma critica a uma peça de teatro escrita por tal assassino da literatura portuguesa, onde desde a actriz até a tradução das belas cartas francesas para português tudo era errado. Isto fez-me relembrar um pouco os tempos de hoje em dia em que por mais que queiramos ver algo com qualidade, os portugueses têm uma certa tendência em assassinar o que há de bom.

Por fim, ainda tive a oportunidade de ouvir mais um texto de Fernando Pessoa ortónimo. “O eu fragmentado”; fez-me pensar bastante em cada estrofe, pois em cada estrofe senti a necessidade de desmultiplicar o meu ser e de sentir o mesmo do que ele sentiu. Sinto uma necessidade em comum de nunca parar, de continuar e experimentar, nunca matando a curiosidade e a criança que existe dentro de mim. Não quero a minha alma a aprisionar-me tudo aquilo que de bom há em mim, pois sei que não quero ganhar vícios. Quero ser como ele, viajar e perder países, quero ser antes um mundo do que apenas um ser singular. São todos estes os sentimentos que a poesia de Fernando Pessoa me desperta e me faz reflectir na sua poesia. Não acredito que ele algum dia possa ter sido louco, pois um louco não escreve assim e se o escreve, considerem-me louco pois eu gostaria de escrever assim.

Bernardo, 12º K

Atenção, vale a pena experimentarem:

Quartas-feiras, das 10.30 às 11.15 no Centro de Recursos

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

ATENÇÃO

Vejam por favor, um pouquinho mais abaixo, um link para o novo Estatuto do aluno e algumas informações, entre as quais uma sobre inscrição para exames.

Diário da aula de 11 de Janeiro


Logo no início da aula, com a rapidez pouco acompanhada pelos alunos, a professora leu mais um conto daquele delicioso livro. Logo na leitura do primeiro conto pensei que tinha de ir ver se o livro existe na estante da minha mãe, ou se faço mais uma encomenda “aos Bulhosa”. O livro é fantástico. Ouvimos então “Quem se Contenta”. Óptima escolha, para não nos esquecermos de Sttau Monteiro e do seu contexto. O conto é uma excelente metáfora, por exemplo para a ditadura de Salazar “um país onde era tudo proibido (…) não havia ninguém que achasse mal ou não se adaptasse” lembra-nos da tal síntese da “insólita felicidade”. E fala mesmo de um 25 de Abril “aí, o povo fez a revolução”. O que logo captou a minha atenção, pois é um tema que mexe comigo, que me desperta, que me interessa…! Espero sinceramente que falar do Estado Novo, e analisar a sátira, do até agora muito interessante, Sttau Monteiro, aliado à própria professora, inspire de dê juizinho às cabecinhas que me quiseram “espancar” quando orgulhosamente afirmei que assinei a petição do Movimento Anti-Fascista contra um museu com o nome do tal senhor que até defendem… Espero!

Seguiu-se o “Opiário”. Não gostei muito… É interessante claro, mas eu não interpretaria tal frases tão “alucinadamente”, são tormentos reais do poeta. Mas no meio das tormentas, algum “humor” com “sou lunático, mas não católico”.

Já o “Manifesto Anti-Dantas” é genial! Divertidíssimo, um autêntico gozo com o escritor Júlio Dantas. Apesar de ser agressivo, é hilariante…! E Mário Viegas interpreta-o com igual genialidade. “(…) faz tudo bem…menos escrever, que é o que ele faz”. É tudo num tom provocatório com muito humor, uma boa maneira de tratar um desagrado. Esta gravação lembrou-me tanto o teatro, expressão dramática, lembrou-me dos grupos de teatro escolares onde estive, e deu-me uma imensa saudade… Saudade de não ter de definir e limitar os sonhos.

Marta Romão nº19 – 12ºJ

Diário da aula de Português do dia 29/01/2008



A professora começa a aula referindo a nova Legislação para nos alertar em relação às faltas, porque se tivesse de ser aplicada já este ano a nova legislação, que saiu no meio do ano lectivo, os alunos que ultrapassarem o número de faltas tanto injustificadas como justificadas serão obrigados a fazer exames das mesmas, mas se não passarem no exame reprovam nessa disciplina em que excederam as faltas.

Quando a professora nos disse isto, acho que posso falar pelos meus colegas quando digo que ficámos todos indignados, porque esta legislação só saiu no meio do segundo período e se o conselho executivo e os professores não conseguirem contornar esta lei, muitos alunos vão ser obrigados a fazer os exames devido a faltas justificadas; sinceramente, achei esta medida muito estúpida, porque para além de como já referi ter saído só no meio do segundo período, nas universidades, se nós faltarmos não nos marcam faltas (a não ser que também já tenham mudado) e eu não percebo o porquê de tanta preocupação e tanto rigor com as faltas, se chegamos às universidades e damos as faltas que quisermos.

Depois de se ter falado acerca disto, a professora recordou que na próxima aula, quinta-feira, era necessário todos trazermos o Diário acerca de Fernando Pessoa e “Felizmente Há Luar!”. Não tenho tido muito tempo para fazer este diário, mas ao menos já fiz algumas coisas e vou continuar a fazer até quinta. De seguida, a professora leu o conto “Olhos Inimigos” para nós apontarmos frases no caderno a fim de no final do período fazermos um trabalho com as várias frases que retiramos dos vários textos que a professora lê todas as aulas. Seguidamente a professora ditou os sumários em atraso (Lição 29, 30, 31, 32 e 33).

Continuou a aula dizendo para revermos para o teste a página 304 e de seguida lemos os textos da página 306 “A censura e o Teatro” e “A História como Mito Revisitado”; cada aluno lia um parágrafo e a professora ia interrompendo a leitura para nos explicar certos aspectos dos textos, e disse-nos que a PIDE estava sempre a assistir às representações para confirmar que o que os actores diziam era exactamente o que estava já visto pela Comissão de Censura. A seguir à continuação da leitura a professora perguntou-nos onde, quando e com quem começa a dramaturgia, desta pergunta é que eu não estava nada à espera, a professora disse-nos que foi com Gil Vicente no início do século XVI.

Continuámos a leitura até chegarmos a um parágrafo que falava de fábulas e parábolas, e como ninguém se lembrava ou não sabíamos o que era, a professora passou a explicar de seguida, dizendo que fábulas, como as de La Fontaine , são histórias em que as personagens eram animais mas falavam como pessoas e tinham os mesmos problemas que nós, para ensinar algo aos ouvintes ou leitores.

Parábola também e uma história que pretende fazer passar um ensinamento.

A professora avisou-nos que poderia sair no teste como pergunta de desenvolvimento a diferença entre História no Teatro e de Teatro Histórico e de seguida explicou que História no Teatro é quando se vai a um momento histórico para se falar do tempo em que estamos (que é o exemplo do Felizmente Há Luar!) e que Teatro Histórico é o teatro em que o mais importante a representação de um momento histórico (como por exemplo alguém fazer uma peça de teatro refazendo a Revolução Francesa).

Depois desta explicação, a professora disse-nos para lermos os textos da página 307 em casa e o primeiro texto da página 308; de seguida lemos o texto “Portugal pós invasões francesas”. Era a minha vez de ler e li o primeiro parágrafo, mas algumas frases foram lidas por dois colegas meus, porque estavam distraídos e a professora queria ver se eles sabiam onde estávamos.

Quando acabámos de ler o texto começámos a ler o Felizmente Há Luar! na página 321/322/323; na leitura da página 322 ofereci-me para ler as falas de Beresford, um Mercenário que está constantemente a falar de dinheiro, não costumo ler muito nas aulas, quase nunca até, mas gostei muito de ler e vou tentar ler mais vezes daqui para a frente, porque até é uma maneira de percebermos melhor os textos do que ouvir os outros a ler.


Margarida Matias Nº15 12ºK

Estatuto do aluno

http://dre.pt/pdf1sdip/2008/01/01300/0057800594.PDF

destacáveis

PEÇO AOS ALUNOS DO 12º k QUE NÃO SE ESQUEÇAM DE ME ENTREGAR os recibos destacáveis de uma convocatória para uma assembleia de pais e encarregados de educação. Amanhã deverão ser todos recolhidos.

ATENÇÃO: IMPORTANTE: Exames nacionais- Inscrições

Aviso em especial os alunos que tencionam fazer exames, que o período para inscrições nos mesmos é de 18 a 29 de Fevereiro.

Novo Estatuto do aluno

Na sequência de conversa na aula com os alunos do 12º K, informo:

- A lei é omissa quanto à data da entrada em vigor do documento, no entanto teremos de adaptar o Regulamento Interno até ao final do ano lectivo.

-Possivelmente, as alterações só terão efeito no próximo ano lectivo. No entanto, por todas as razões e mais alguma, deverão continuar a estar atentos à assiduidade e a justificar todas as faltas de forma regulamentar.

-Brevemente, o Conselho Pedagógico, o Conselho Executivo e o Conselho dos Directores de Turma aprofundarão este assunto.

- Para já, as regras regras em vigor mantêm-se, e ao contrário do que andou a ser dito na comunicação social, o novo estatuto é muito mais penalizador para o aluno no que se refere a faltas, dado que as faltas justificadas passam a contar para efeitos de exclusão por excesso de faltas.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Diário


Dia 11 de Janeiro

Começámos a aula outra vez pela manhãzinha numa daquelas salas frias, estranhas, tristes. Hoje não estou muito contente (...) não sei se consigo concentrar-me, mas vou tentar.

Passados alguns minutos começámos a falar sobre Fernando Pessoa, (que cá para mim era uma génio, vejam lá que até a minha rua tem o seu nome: Rua Fernando Pessoa…maravilhoso não?) e de seguida fomos ouvir a obra de Álvaro de Campos o “Opiário”(…) sinceramente não percebi nada, era uma leitura um bocado esquisita, porque acho sinceramente que o homem estava bêbado. Uma das coisas que reparei foi na a violência das palavras, a maneira como as conjugava, as acentuava e as palavras que usava, de facto foi bastante interessante e atingiu-me aquela leitura, trouxe-me tristeza, mostrou-me como ele estava revoltado e desesperado. Foi sem dúvida um grande desassossego!

Passado um bocado fomos ouvir o “Manifesto Anti-Dantas” de Almada Negreiros. Fiquei petrificado, sei que adorei, mas não transcrevi quase nada! Achei uma obra totalmente destrutiva, com um vocabulário violento seguido de muitas repetições para dar mais ênfase, a utilização consecutivamente da adjectivação e o exagero. Foi genial.

Passada mais meia hora fomos ouvir outra obra desta vez através do livro de português e pela leitura da professora, na pág.154 “O eu fragmentado”. Foi uma leitura calma e com pausas, várias pausas devido à interpretação. Depois de finalizarmos a leitura juntamente com a interpretação, a professora decidiu lermos em coro (…) correu bem, aliás muito bem, pelo que avalia a professora.


João Assunção Nº16 12ºJ

Diário

Finalmente, após tanto tempo, foi-me devolvido o gosto pelas aulas de Português. A interacção aluno-professor, as palavras quase imperceptíveis de Anti-Dantas vindas da tão desejada aparelhagem para as nossas aulas, a matéria aprendida e encarada com vontade e humor, deixando para trás o pensamentos das longas e enfadonhas histórias com as quais penso nada nos identificarmos...
O texto "Quem se contenta" foi-nos lido logo no início pela professora e do tínhamos de tirar partes que melhor nos soassem, tendo eu preferido "um lance seguido de outro sem sequer parar para recuperar o fôlego". A nossa colega Andreia leu-nos o seu diário do qual me ficou melhor gravado na memória a frase " nós na vida precisamos de tudo e de todos".
O nosso "amigo" rádio contou-nos por sua vez a 1ª fase de Álvaro de Campos em que este conta a sua viagem ao Oriente e nada o afecta, pois tinha tomado ópio devido a estar entediado. Foi sem dúvida uma actividade tão estranha quanto curiosa, pois apesar dos nossos sobre-esforços por conseguir entender tais murmúrios, estávamos imensamente concentrados e curiosos por perceber a sua estranha, monótona e enrolada maneira de falar. E como diz a expressão "último mas não menos importante", ouvimos o Manifesto Anti-Dantas, um divertidíssimo e unusual manifesto com tanto "realismo e frontalidade", com associações um tanto ou nada loucas, que as tornam apetecíveis ao ouvido "...o espectador cai da plateia abaixo"

Teresa, 12º I

Diário da aula nº 25 do dia 11/1/08


Mais uma semana que chegou a o fim, estava desejosa que as aulas acabassem (...). Mal começava o dia enervada (...). Começámos mais uma aula de Português com mais um conto do livro A Memória do Mundo de Italo Calvino. O conto chamava-se "Quem se contenta", realmente há cada história mis estranha!...

Depois ouvimos um poema de Fernando Pessoa/Campos que falava do motivo pelo qual ele se metia no ópio, eu peguei no meu diário e comecei a escrever mais um daqueles meus poemas trágicos sobre a luz, escuridão, a luz e a morte, enfim. Uma coisa que adorei ouvir foi o Manifesto Anti-Dantas, de Almada Negreiros, a primeira vez que o ouvira fora no meu nono ano, fartei-me de rir pela maneira que o locutor se exprimia.

Foi um máximo, esta aula.

Bárbara C.

Nº8 12ºJ

Diário da aula de Português do dia 11 de Janeiro de 2008


Cheguei atrasado à aula por causa da chuva ou talvez não, visto que já não é a primeira vez que chego tarde, parece que se está a tornar um hábito; ultimamente nunca chego a horas, o que fez com que perdesse a leitura do conto “Quem se contenta”.

Ouvimos o “Opiário” de Álvaro de Campos; este texto era estranho devido à propositada má acentuação e pronúncia das palavras e à voz do “narrador”, do qual destaquei várias frases como “A terra é semelhante e pequenina”, “Desassossego que há em mim”. Em seguida ouvimos o “Manifesto Anti-Dantas” de Almada Negreiros, muito diferente do texto anterior, deste texto destaquei frases como “Dantas sabe fazer tudo menos escrever que é o que faz”, e “mil vezes não”.

Para finalizar a aula lemos alguns poemas de Fernando Pessoa. Do meu ponto de vista esta aula foi um pouco diferente de todas as outras, visto que grande parte foi de audição.

Pedro Santos, N.º 20 – 12º I

Diário da aula do dia 11 de Janeiro de 2008

Cheguei à aula a horas. A "stora" tentou começar a aula, mas a constante entrada dos alunos atrasados dificultou o começo e também me sentia um pouco distraído com isso. Quando por fim a "stora" conseguiu começar a aula, leu o conto "Quem se contenta"; achei-o bastante divertido. Mas nesta aula ouvimos mais do que lemos, isso captou bastante a minha atenção...
A "stora" levou uma aparelhagem para ouvirmos o poema "Opiário" do heterónimo Álvaro de Campos e de seguida o "Manifesto Anti-Dantas" de Almada Negreiros. No início da primeira leitura fiquei um pouco assustado, pois a "stora" disse para tirarmos apontamentos e eu não estava a perceber nada, mas depois lá me consegui concentrar, perceber e tirar alguns apontamentos. Gostei mais do segundo, pois era bem mais engraçado e de melhor compreensão. Das palavras que retirei do primeiro texto as que mais gostei foram, “O meu coração é uma avozinha que anda pedindo esmola”, “moro no rés do chão do meu pensamento” e "deixem – me estar nesta cadeira ate me virem buscar para a cova”.
Depois de ouvir estes poemas a minha concentração foi-se, mas por pouco tempo; mal a "stora" começou a ler voltei a atenção para a leitura.


José Alexandre Curado Nº 14 12º I

Diário da aula de Português

11 de Janeiro de 2008

Eram dez e meia quando tocou para a entrada. Comecei então a dirigir-me para a aula de Português. Cheguei à sala 014, ainda não havia sinal da "stôra" mas rapidamente ela apareceu; o que não foi tão rápido foi a pobre da funcionária que tinha de abrir as portas daquele piso e do debaixo.

Começámos por ouvir uma introdução da "stôra" sobre o que iríamos fazer. Falou-nos de três textos completamente diferentes na sua forma. Leu-nos um excerto do conto “Quem se Contentava” e depois ouvimos os poemas através de gravações. O primeiro chamava-se o “Opiário” de Álvaro de Campos, que num tom dramático, monocórdio e sob o efeito do ópio, contava de uma maneira muito confusa e quase sem nexo, as desgraças daquela época. O segundo era “O Manifesto Anti-Dantas” de Almada Negreiros. Era um panfleto satírico ao escritor Júlio Dantas e “a todos os Dantas que houver por aí”. É divertido e sem “papas-na-língua”, contudo reflecte as mais puras verdades.

Para ser sincera, gostei muito mais deste segundo, porque expunha ideias claras, concretas, e não misturadas com droga. Talvez por eu ter uma grande aversão a estas, à partida não dei grande credibilidade ao que estava a ser dito.

Depois fizemos a leitura de poemas do livro, em que cada um lia aquilo que era pedido pela "stôra". Houve uma altura em que era suposto eu ler o primeiro verso, mas muito egoísta decidi ler a estrofe inteira, e logo ouvi uma voz vinda de trás a repreender-me: “É só a primeira linha!”.

Desculpei-me e pensei que também não era preciso “comerem-me”. Afinal de contas toda a gente tem o direito de perceber mal as coisas, principalmente quando o “fusível” está quase a queimar! Mas pronto, de qualquer modo, lá fiz a vontade quatro vezes, de ler a primeira linha do poema e não a estrofe inteira…



Alexandra

Diário

11.01.08

A chuva, provavelmente, causou um efeito de excitação geral. Não sei se será mesmo por este motivo, mas prezo a minha vida, e digo que sim, assim ficamos todos conformados.

Estou para aqui a pensar por que será que a professora pediu para fazer o diário. Será que está a espera que a chuva germine inspiração nestas mentes? Talvez, visto que todas as aulas são iguais a todas, uma “seca” portanto, e a única diferença, é a chuva.

Num misto de “que seca de diário” e “sono” (sim, já estão tão presentes no meu quotidiano que penso ser já um novo “eu”, como o Fernando Pessoa e para mim são “sentimentos”) a aula, corajosamente, por entre burburinho (o habitual) e a espera que as pessoas chegassem, devagar como sempre.

Mas afinal, esta aula não foi uma aula qualquer. Ouvimos dois poemas. Um, de Fernando Pessoa (mais precisamente do seu heterónimo Álvaro de Campos) o outro de Almada Negreiros. Particularmente... gostei mais do poema do Pessoa. Não sei se pelas palavras, não sei se por tudo o que lá está escrito estar muito próximo da nossa realidade. (sim, espero que todos se tenham identificado com o poema, caso contrário, sou uma “freak” e não sabia) sentia-se uma profunda negação à vida, mas por outro lado, senti também um profundo amor pela escrita... o que não deixa de está indirecta ou directamente, ligado à vida, num misto de querer e não querer viver, pois tinha muitos conflitos internos, mas de querer viver, para passar isso tudo para papel. Adorei mesmo.

Já o segundo... "pelo amor da santa!". Sim, tinha muita piada... mas acho que um homem inteligente como deveria ser o senhor Negreiros, com certeza arranjaria insultos mais inteligentes, e com mais teor do que os que proferiu. Achei piada, mas à linguagem já não. Sim, percebo que tenha a ver com a tal corrente artística, mas não gostei.

E pronto, acho que nesta aula aprendi que sempre que chover, já temos um mote para começar a fazer diários, por isso, meninos e meninas... estejam atentos às noticias.

"Brincadeirinha!"



Caroline Masson

Diário da aula do dia 11 de Janeiro



No dia 11 de Janeiro a aula lá começou, e eu estava um bocadinho desnorteada, devido a ter faltado nas aulas anteriores. Não sabia bem em que situação estávamos relativamente à matéria dada, mas passados alguns minutos, logo fui informada do que tinham realizado.

A professora Risoleta nem deu espaço de manobra e começou logo a ler o conto que havia sido iniciado nas últimas aulas (o seu título era, “Quem se contenta”, tinha a ver com o jogo do mata, que “matava”, depois foi proibido e depois houve uma revolução etc.), isto para que os alunos não se dispersassem durante muito tempo (porque a agitação para pousar os livros de manhã é bastante frequente no início da aula).

Ouvimos (na aparelhagem) dois textos: um chamado o “Opiário” de Álvaro de Campos, e outro com o nome “Manifesto Anti-Dantas” de Almada. Dois textos completamente diferentes um do outro relativamente à forma como eram “recitados”, mas os dois cativaram-me o ouvido, tinha aquela sensação de querer ouvir mais e de tentar decifrar o que dizia, definitivamente uma sensação estranha. Durante a sua leitura, retirei algumas frases “Quem me olhar deve-me achar banal” isto no texto sobre o Opiário, e “Pim!” (um som muito engraçado que o leitor fazia) retirado do texto do Almada já referido em cima.

Foi interessante, porque as pessoas estavam a gostar do que estavam a ouvir, e devido à forma como eram lidos “chocavam” o ouvinte.

E tudo o que choca chama a atenção.

Depois disto tudo ainda lemos um poema de Fernando Pessoa, onde a professora tentou captar a atenção dos alunos, pondo a turma a ler o poema em coro, isto porque as atenções ainda se encontravam naqueles minutos anteriores.

Uma aula de que gostei bastante


Ana Subtil nº 3 12º I

Diário da aula do dia 11 de Janeiro de 200

Cheguei à aula com a Teresa, ambas numa correria por causa da hora e por causa a chuva! A "stora" começou por ler o conto "Quem se contenta", achei-o um pouco estranho, mas é bom ouvir de tudo. No entanto, o que marcou esta aula foi que lemos pouco, escutámos mais...
A "stora" levou uma aparelhagem e ouvimos o "Opiário" do heterónimo Álvaro de Campos e de seguida o "Manifesto Anti-Dantas" de Almada Negreiros. Nunca pensei ouvir um texto que se percebesse tão mal (o primeiro) mas isso só me fez ficar mais concentrada e por isso gostar mais dele. O esforço por perceber as palavras e as frases apenas as tornava mais interessantes. O meu coração é uma avozinha que anda pedindo esmola, foi uma das frases de que mais gostei.
O segundo texto era mais leve e engraçado mas não me prendeu tanto.
Por fim, lemos pequenos poemas de Pessoa que caracterizavam a sua forma de pensar.

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte
Oxalá que ela
Nunca me encontre

F. Pessoa

Maria Teixeira nº16 12ºI

Diário da aula 25, dia 11 de Janeiro de 2008

Chegámos à sala a horas, mas um problema com a abertura da porta fez com que entrássemos um pouco depois do previsto.

Mesmo no início da aula, quase logo após termos entrado, foi lido pela professora o texto “Quem se contenta”, uma história, que apesar de ter achado peculiar, e aparentemente sem sentido, considerei igualmente muito interessante. Apresenta no final uma conclusão bastante curiosa: “eles fizeram a revolução e mataram-se a todos, e continuaram a jogar ao mata”.

Em seguida, ouvimos através da aparelhagem o poema “Opiário”, texto correspondente à primeira fase de Álvaro de Campos, dito de uma maneira que achei que a única vantagem em ouvi-la era o facto de ficar a saber como NÃO dizer um poema.

Logo depois disso, e ainda através da aparelhagem, ouvimos então Mário Vielas, que disse o poema “Manifesto anti-Dantas”, obra de Almada Negreiros. A expressiva maneira como dizia o texto, dava a sensação de que o próprio narrador tinha ódio a Dantas. Inicialmente, com o excesso de expressividade do narrador, tive alguma vontade de rir, mas foi então que entendi que a maneira como era dito tinha muito a ver com o título e conteúdo da obra, e estava muitíssimo bem aplicada.

Passámos destes dois momentos de descontracção para algumas leituras no livro.

Iniciámos as leituras com o texto “Sou um Evadido”, em leitura expressiva, mas esta leitura foi diferente das outras. Utilizámos igualmente a distribuição de versos, mas desta vez, cada aluno teve de decorar em dois minutos todas as partes atribuídas ao mesmo, para que depois os texto fosse então ”cantado” com o livro fechado!

Como seria de esperar o resultado não foi o melhor, mas de qualquer maneira foi uma experiência divertida.

Lemos ainda “Viajar, Perder Países” de Fernando Pessoa, já no final da aula, mas já ninguém estava a prestar muita atenção.

Jorge, nº 17, 12º J

Critérios de avaliação

Recordo a informação aqui publicada no primeiro período, a partir de um documento elaborado pelos professores de Português e aprovado em Conselho Pedagógico:

"No 11º e 12º anos, os docentes acharam que deviam ter mais flexibilidade na avaliação dos testes (sobretudo no caso dos alunos que irão fazer exame) e mais importância dada à participação nas aulas reflexo de mais maturidade e pesquisa e também, porque alguns trabalhos de casa são feitos em aula de modo mais interactivo. Assim, os critérios são: entre 50% e 60% para os testes e 10% para comportamento/atitudes/valores. Os 40% ou 30% respectivamente, serão divididos pelas actividades escritas e participação oral em sala de aula. (E ainda trabalhos diversos, visitas de estudo, etc.)"

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

RELATÓRIO DA VISITA DE ESTUDO DE PORTUGUÉS DO DIA 21 DE NOVEMBRO 2007

RELATÓRIO DA VISITA DE ESTUDO DE PORTUGUÉS DO DIA 21 DE NOVEMBRO 2007

Nota introdutória: de forma a encarar este trabalho como um desafio à criatividade, para evitar transformá-lo num monstro chato, ocorreu-me fazê-lo à minha maneira.

Isto não significa que desatarei a narrar acontecimentos pessoais, subjectivos. Tentarei ao máximo conservar a ideia de relatório. Embora... diferente.

Espero ser breve e objectiva, de modo a transmitir o mais importante.

Segunda Nota introdutória: anexei ao texto fotocópias dos esboços e rabiscos de apontamentos que realizei durante a visita.

Amanda Baeza

12ºJ nº3



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CAFÉ DO PESSOA: A BRASILEIRA

Cheguei às 9h13.

A Brasileira foi o centro de reunião dos modernistas, pois era ali que eles conversavam, discutiam, inventavam sobre a actualidade e o futuro. Isto no século XX, por volta de 1913.

Deste grupo de modernistas, fizeram parte escritores e artistas, como Mário de Sá-Carneiro, Amadeo de Sousa-Cardoso, Almada Negreiros (autor de loucuras, como atirar-se e deslizar sobre as mesas, tivessem ou não ocupantes), Santa-Rita e, naturalmente, Fernando Pessoa.

Esta geração de artistas, tanto das letras como dos pincéis e cinzeis, chama-se Geração do Orpheu, muitos deles participaram e colaboraram na criação da revista Orpheu, o berço do Modernismo e os seus “ismos”, a polémica introdução dos valores estéticos da vanguarda, em Portugal.

Curiosidade: a Brasileira foi a primeira casa a servir café em Lisboa. E foi aqui que o termo “bica” surgiu. Na realidade, “bica” significa “beba isto com açúcar”.

A escultura de Fernando Pessoa, que se encontra à entrada (é da mão de Lagoa Henriques), esculpida anos depois da sua morte, em sua homenagem.

VARANDA DO PESSOA

Foi no prédio nº18, do Largo do Carmo, que Fernando Pessoa viveu, durante os anos de 1908 até 1912.


Às 10h20 entrámos no museu do Chiado, de cujo interior e recheio sempre gostei. Fascinante. Falo do museu em si. Não das exposições. No entanto, elas não ficam de parte.


Nesta exposição demonstra-se a influência dos objectos electrodomésticos (perdão, electrónicos), na vida do ser humano. Os artistas procuram, nas suas obras, dar outro sentido ou uma nova utilização às invenções do século. A explorá-las. Impressionar os observadores e integrá-los nas obras.

Obra que achei mais interessante: muitas.

Obra que posso descrever: de Chris Marker. Materiais utilizados (ou aparelhos utilizados): câmara, microfone, altifalante e televisor.

O autor pretendia, com esta instalação, dar um novo olhar às típicas câmaras de vigilância. Passo a explicar. As câmaras de vigilância limitam-se a espiar, por exemplo, os clientes de uma determinada loja. Nesta obra, Marker estabeleceu uma nova funcionalidade: o observador não só vê os outros, como também pode direccionar a câmara e interferir, oralmente, com os “vigiados”.

VARANDA EM TAMANHO GRANDE

Almoçámos às 12h42, no miradouro de Santa Catarina, depois de uma pequena confusão para lá chegar.

Frase em destaque: (do texto D. Sebastião Rei de Portugal) “Ficou meu ser que houve, não o ser que há.”. Parece impossível, estranho, incompreensível, e mesmo assim, frases destas constroem-se na minha cabeça, sem mesmo eu as perceber. É de Fernando Pessoa.

Sinceramente, agora estou a puxar pela cabeça para explicar a minha perspectiva deste verso. Para isso vou começar da maneira errada:

É como se...

É como se o meu espírito do passado fosse presente, estivesse presente. E aqui está uma enorme confusão cerebral! Peço desculpa à professora se não consigo explicar-me.

(De O Mostrengo): este é o poema da Mensagem mais enjoativo (pois toda a gente e em todo o lado se repete) e, ao mesmo tempo, um dos que mais gosto e que, a cada nova leitura, encontro novas coisas que me impressionam. “El-Rei D. João Segundo!”. Ouviste, Mostrengo?. “Aqui ao leme sou mais do que eu!”. Sou um povo. Um todo.



UMA SÉRIE DE VARANDAS

Fizemos uma paragem ao pé dos Armazéns do Chiado. Obviamente, realizou-se uma leitura. E na rua Nova do Almada, recitou-se (se é assim que se pode chamar), uma introdução aos locais visitados: no texto evocavam-se uma série de espaços (com as suas respectivas varandas), frequentados por Pessoa.

Rua 1º de Dezembro...

Estação do Rossio. A estação do Rossio é um monumento romântico, com características manuelinas. Foi fechado ao público pois ganhava em beleza e perdia no conforto.

(Outras ruas: outras varandas: Rua da Betesga, Rua dos Fanqueiros, Rua do Ouro, Rua Augusta, Rua da Prata, Rua de São Julião, Rua da Vitória). Lembro-me do cheiro a caril.

No meio desta veias todas do coração do país, a capital, parámos na praça do Teatro de Dona Maria, que pertence ao estilo neoclássico. A coroar o frontão encontra-se a estátua de Gil Vicente, fundador do teatro português.

Frase em destaque: “Há uma alegria sossegada no ar”. Que brincadeira. A alegria imaginava-a tudo menos sossegada, talvez pela juventude. E esta frase não me intrigou, como também me fez pensar... Pois é! Existem muitos tipos, géneros, famílias de alegrias!



VARANDAS DO TERREIRO DO PAÇO (ALGUMAS IMAGINÁRIAS)

Foi aqui, à frente (ou melhor, no meu caso, de costas) à Praça do Comércio, que li um texto de Bernardo Soares, heterónimo de Fernando Pessoa, um fragmento do livro O Desassossego.

APARTE: Pessoa escreveu muitas páginas do Desassossego, no nº4, no 1º andar, na R. dos Fanqueiros.

Entramos no café/restaurante “Martinho da Arcada”, frequentado, claro, lógico, obviamente, por Fernando Pessoa.

FIM DA VISITA.

mas não do caminho.

MATERIAL UTILIZADO

-O meu bloco de notas

-A minha memória.

-Algumas notas de História do meu caderno.

TRABALHO DA ALUNA

Amanda Baeza, 12ºJ nº3




quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

2º PERÍODO

Estudaremos:
- os heterónimos de Pessoa: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis
- Felizmente há Luar, de Luiz de Sttau Monteiro

Uma aula da semana será dedicada a Pessoa, a outra a Sttau Monteiro.

A aula pode consistir em leituras (silenciosas ou em voz alta - no caso do teatro: dialogadas), investigação, estudo, explicações/exposições, audições, pequenos trabalhos em grupo ou individuais.

Uma componente importante da aprendizagem (e da avaliação, porque as duas coisas estão intimamente ligadas) será uma espécie de diário da vossa viagem por estes autores/obras.

Cada aluno/a elaborará, desde o início do estudo, uma espécie de diário duplo de viagem pelas obras, que intitulará de um lado de um caderno/bloco especialmente destinado a estes assuntos(ou em cadernos diferentes, se preferirem):

- Drama em gente (heterónimos de Pessoa)

e do outro:

- Gente em drama (Felizmente há Luar)

É uma espécie de diário em suporte de caderno/bloco que terá início em cada uma das extremidades, e em que uma será dedicada aos heterónimos de Pessoa e outra à peça de Luiz de Sttau Monteiro.

Cada uma das partes desse bloco de percurso será uma recolha de notas/apontamentos, reflexões, perplexidades, comentários, recolha de textos/imagens (recortes, desenhos, pinturas, fotos) ou texturas que de alguma forma lhes façam lembrar a obra ou alguma parte ou momento ou característica da mesma. Este bloco deve ter características muito pessoais e não meramente reprodutivas de coisas vistas ou lidas.

Cada parte, para além do título que eu lhe dei, deverá ter um subtítulo pessoal.

Terá a forma de diário, isto é, as partes devem ser datadas, sendo que cada semana de estudo a partir da semana de 7 de Janeiro deve incluir no mínimo três datas de diário.

No final deverá constar uma memória descritiva em que o/a aluno/a relembrará, descreverá e avaliará todo o processo.

O diário deve acompanhar permanentemente o aluno/a. Em qualquer momento poderá ser chamado/a a apresentar uma página da semana corrente ou anterior.

Em determinadas aulas (sem aviso prévio) poderá ter de apresentar à professora, o diário no ponto em que se encontra. Isso acontecerá com toda a certeza.

Isto, independentemente de me ir enviando por mail as partes que considerar mais originais e criativas, para irem sendo inseridas no blogue.

Continuaremos a falar sobre isto, nomeadamente durante as próximas aulas.

Desejo-vos um excelente segundo período lectivo, cheio de entusiasmo e criatividade.
Pela minha parte, estarei ao vosso dispor em tudo o que puder ajudar.

Deixo também os meus votos de um muito bom ano de 2008 em que renovem, recriem, reinventem, desenvolvam e expandam até à excelência, o que de melhor viveram em cada um dos anos que passaram.

Risoleta

Fernando Pessoa: desmascarar o poeta

Fernando Pessoa, não era só um, foram vários. Não era o Pessoa, mas sim pessoas. Ele rodeou-se nos meandros de um mundo fictício, encarnando “personnas”, figuras irreiais aos olhos dos demais, mas para ele tão distintos e presentes. Estas criaturas muito conscientes que permeavam o seu inconsciente, não iam além de simulações características da tendência de Fernando para a recriação de “eus” poéticos, os heterónimos. Todas as Pessoas que sobressaltavam em Pessoa tinham índoles tão vincadas, o que fazia com que tais personagens fictícias parecessem mesmo viver dentro do poeta. Foram os autores, que o Fernando real não era, todos com uma escrita diferente. Pessoa era a base de uma árvore poética da qual os ramos seguiam várias direcções sem nunca se soltarem da sua origem. Onde a base não chegava, chegavam os ramos. Portanto, no momento de comunhão com a escrita, o poeta que fisicamente pegava na caneta vivia no inconsciente, uma passagem a outra realidade, despia a alma, e trajava consoante queria para se reinventar as palavras. Ele era a voz das vozes que criou, mas que com ele nada tinham a ver.

Obra poética

O corpo da sua carreira é todo ele formado por heterónimos, pseudónimos e semi-heterónimos. Ao todo 72 nomes. De todas estas personagens poéticas, Fernando Pessoa, foi considerado o ortónimo, já que era a personalidade original. Os três heterónimos mais proeminentes eram os que mais obra poética reuniam: Alvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Um quarto heterónimo também reconhecido era Bernardo Soares, autor da obra “Livro do Desassossego”, muito importante no século XX. Por ter muitas semelhanças com o próprio Pessoa, e não ser uma figura muito marcante foi dado como semi-heterónimo.

Todos os heterónimos têm data de nascimento e de morte, à excepção de Ricardo Reis. José Saramago escreveu posteriormente “O ano da morte de Ricardo Reis”, inspirado pela criação de Pessoa.

Álvaro de Campos (1890-1935)

Segundo a biografia elaborada por Pessoa para cada um dos heterónimos, sobre Álvaro de Campos, declarou que “nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica, depois naval. Numas férias, fez a viagem até ao Oriente de onde resultou o “Opiário”. Agora está aqui, em Lisboa em inactividade. Engenheiro, com educação inglesa, e de origem portuguesa sentia-se sempre um estrangeiro em qualquer parte do mundo.

Campos demarcou-se dos outros heterónimos, por ter vivido fases poéticas distintas. Ao todo foram três. Começa por ser um decadentista, mas logo se apoia no Futurismo: na chama fase sensacionista fez uma série de poemas de exaltação ao mundo moderno, do progresso técnico e científico, de evolução e industrialização da Humanidade. Seguidamente, assume uma direcção mais nilista ou o intimismo: a Fase Abúlica, e assemelha-se à temática abordada pelo Pessoa hortónimo: desilusão com o mundo, tristeza e cansaço, o que faz do poema “Dactilografia” em Poemas.

Ricardo Reis (1887-1935)

Nascido na cidade do Porto. Estudou num colégio de jesuítas. Formado em medicina. Expatriou-se de livre vontade para o Brasil. Latinista e semi-helenista.

Na poesia de Ricardo Reis emergem ideias do neoclassicismo. As suas preocupações intemporais, o receio da velhice, morte, angustiam-no e ele tenta porém encontrar estratégias para ludibriar o sofrimento perante todas estas ameaças, na poesia.

Alberto Caeiro (15 de Abril de 1889-1915)

É considerado o mestre dos heterónimos de Pessoa, apesar de fraca instrução. Poeta ligado à natureza, que despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosófico, afirma que pensar retira a visão. Anti-metafísico. Afirma que ao pensar é levado a um ambiente obscuro e incerto. Vê a realidade de forma objectiva e natural, versos de linguagem simples e familiar, e diz-se como um “simples guardador de rebanhos”.

Caeiro só se importava de vivenciar o mundo que captava pelas sensações e repudiava o pensamento metafísico.

“Creio mais no meu corpo que na minha alma...” Caeiro duvida da existência de algo como uma alma no ser humana, e guia-se pelo materialismo, pois crê no mundo exterior mais do que no mundo interior.

Andreia Silva

Nº6

12º K

Desassossegos de Pessoa

Escola Secundária Artística António Arroio 2007/2008

Disciplina de Português – Maria Teixeira


Desassossegos de Pessoa

Fernando Pessoa e a cidade – ecos dos passos do poeta; transparências do seu olhar


Introdução

Creio que me afastei um pouco do “tema” ao basear o meu trabalho inteiramente numa análise do Livro do Desassossego. Com uma leitura bastante aprofundada do livro fiquei a conhecer melhor Fernando Pessoa, os “seus desassossegos” e a sua visão de Lisboa.

Para a concretização deste trabalho escolhi diversos trechos do livro relacionados com os aspectos que achei mais importantes de salientar. O trabalho vive muito dos textos do livro, sendo estes acompanhados por um comentário pessoal.

No início do trabalho consta ainda uma “introdução” ao livro.

Bibliografia:

Pessoa, Fernando. Livro do Desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. 1060 ed. Lisboa: Assírio & Alvim, ?.

Introdução ao Livro

O Livro do Desassossego de Fernando Pessoa é uma obra que reúne textos pelo nome do seu “semi-heterónimo” Bernardo Soares.

Projectos da primavera de 1913 já mencionavam o livro como sendo uma obra em prosa. Em Agosto do mesmo ano é publicado na revista A Águia, do Porto, o texto “Na floresta do Alheamento” sob o seu próprio nome e com a indicação “Do Livro do Desassossego, em preparação”. Assim podemos considerar que o livro foi escrito entre 1913 e 1935 (ano da morte do escritor), sendo a sua publicação posterior.

O livro nunca foi, de forma alguma, uma obra organizada. “O meu estado de espírito obriga-me agora a trabalhar bastante, sem querer, no Livro do Desassossego. Mas tudo fragmentos, fragmentos, fragmentos.” Diz Pessoa numa carta de 1914 a Armando Cortes-Rodrigues.

Os trechos para o livro eram escritos nos mais variados suportes – papel dos escritórios onde trabalhava ou dos cafés que frequentava, envelopes, folhas soltas, agendas, etc – o que mostra o seu carácter espontâneo, eram escritos em qualquer hora e local. Esta “desarrumação” foi uma espécie de premissa, sem a qual o livro não poderia ser fiel ao seu génio inquieto e agitado.

Os trechos mais antigos têm título, mas a partir de 1915 isto já quase não acontece. Entretanto, o livro foi-se transformando, cada vez mais, num “diário” dominado pelas inquietações intelectuais e emocionais de um homem de quase 30 anos, habituado a «pensar com as emoções e sentir com o pensamento». Mas Pessoa sempre foi conhecido pelos seus heterónimos, pelo que este livro não foi excepção, sendo o livro atribuído a Vicente Guedes, um ajudante de guarda-livros que escrevia nas horas vagas. Guedes surgira antes de 1910 mas a sua caracterização completa só ficou definida por volta de 1915, enquanto “autor” do Livro do Desassossego. Este heterónimo, tal como o seu criador, era solitário, reservado, interiormente aristocrático e invulgarmente lúcido.

A década seguinte ficou marcada pela crise e instabilidade política que se vivia em Portugal. As sucessivas mudanças de governo, as greves e as manifestações, a substítuição da República pela Ditadura... No início desta década, de 1920, o poeta escreveu pouco para o livro, talvez afectado pelos factores mencionados, mas nesse tempo dedicou-se a outras obras.

Em 1928/9 voltou ao livro; podemos considerar este período como uma fase diferente. O carácter do livro mudou porque o seu autor também mudara: Pessoa estava pronto para escrever Pessoa. Ainda recorria a heterónimos mas eram claramente os seus próprios sentimentos, irreprimíveis, que habitavam esta prosa (o mesmo acontece com os poemas de Álvaro de Campos tardio). Nesta altura, Vicente Guedes foi substituído por Bernardo Soares. Este último foi considerado um “semi-heterónimo” porque, segundo Pessoa, era «dotado de uma personalidade não diferente da minha [sua], mas uma simples mutilação dela».

Assim, podemos distinguir em duas fases a obra escrita: a de Guedes (antes de 1920) como sendo mais friamente racional, algo distante do seu próprio mal existencial; e a de Bernardo Soares (1929-1935), sendo este mais emotivo, incapaz de se subtrair à sua angústia profunda. No entanto, é de notar que a autorio de todos os techos foi atribuída a Bernardo Soares, quando o mesmo surgiu, ficando com o “lugar” de Guedes.

Os trechos dos anos de 1930 (quando mais de metade do livro foi escrito) são caracterizados pelo devaneio, mas também pela espantosa franqueza do seu conteúdo. O livro torna-se um verdadeiro diário, não de coisas vistas e feitas mas de coisas pensadas e sentidas.

Com esta obra Pessoa passar para além da literatura: limitava-se a gravar a mente a alma em papel


Pessoa vivia preso nos seus próprios pensamentos, condenado ao tédio e à monotonia que estes lhe causavam. Muitas vezes, o escritor invejava a felicidade banal das pessoas vulgares.

“Irrita-me a felicidade de todos estes homens que não sabem que são infelizes.” (p. 266)

“Uma coisa só me maravilha mais do que a estupidez com que a maioria dos homens vive a sua vida: é a inteligência que há nessa estupidez.” (p.164)

“O homem vulgar, por mais dura que lhe seja a vida, tem ao menos a felicidade de não pensar.” (p. 181)

Considerava a pessoa comum, por não pensar.

“Se eu fora outro, penso, este seria para mim um dia feliz pois o sentiria sem pensar nele”.

O seu ser obrigava-o a pensar e a analisar emoções, pormenores, tudo, pelo que não conseguia sentir nada em pelo, nada que não fosse perturbado pelo seu racionalismo.

“Em mim foi sempre menor a intensidade das sensações que intensidade da consciência delas.” (p. 113)

“(...)as coisas mais pequenas têm com facilidade a arte de me torturar (...) Quem, como eu, sobre porque uma nuvem passa diante do sol (...) AS minhas horas mais felizes são aquelas em que não penso nada, não quero nada, não sonho sequer (...)” (p. 367)

Isto levava-o à monotonia, tédio e infelicidade.

“Estou num dia em que me pesa (...)a monotonia de tudo” (p. 165)

“Cheguei aquele ponto em que o tédio é uma pessoa, a ficção encarnada no meu convívio comigo.” (p. 313)

O livro, no entanto, não é uma obra deprimente de lamentos de certo escritor. Apesar de (na minha opinião) conter um excesso de devaneios sobre a monotonia e o tédio, isto apenas representa a contínua batalha de auto-descoberta que o autor travava consigo mesmo.

Existem textos que me esboçam um sorriso na cara pelas suas descrições harmoniosas e que ao mesmo tempo têm um lado complexo que me faz pensar.

“Não é nos largos campos ou nos jardins grandes que vejo chegar a primavera. É nas poucas árvores pobres de um largo pequeno da cidade. Ali a verdura destaca como uma dádiva e é alegre como uma boa tristeza.
Amo esses largos solitários, intercalados entre ruas de pouco trânsito, e eles mesmos sem mais trânsito que as ruas. São clareiras inúteis, coisas que esperam, entre tumultos longínquos. São de aldeia na cidade.
Passo por eles, subo qualquer das ruas afluentes, depois desço de novo essa rua, para a ele(s) regressar. Visto do outro lado é diferente, mas a mesma paz deixa dourar de saudade súbita - sol no ocaso - o lado que não vira na ida.
Tudo é inútil, e eu o sinto como tal. Quanto vivi se me esqueceu como se o ouvira distraído. Quanto serei não me lembra como se o tivera vivido e esquecido.
Um ocaso de mágoa leve paira vago em meu torno. Tudo esfria, não porque esfrie, mas porque entrei numa rua estreita e o largo cessou.” (p. 293)

“Vou num carro eléctrico, e estou reparando lentamente, conforme é meu costume, em todos os pormenores das pessoas que vão adiante de mim. Para mim os pormenores são coisas, vozes, letras. [...]Entonteço. Os bancos do eléctrico, de um entretecido de palha forte e pequena, levam-me a regiões distantes, multiplicam-se-me em indústrias, operários, casas de operários, vidas, realidades, tudo. Saio do carro exausto e sonâmbulo. Vivi a vida inteira.” (p. 255)

Estes exemplos que dei reflectem a vida citadina de Pessoa em Lisboa e no último, apercebemo-nos ainda, da sua constante observação de pormenores e de características humanas.

Fernando Pessoa gostava de Lisboa, considerando-a como a sua grande influência literária, sentro outra Cesário Verde.

“Penso, muitas vezes, em como eu serie se (...) nunca houvesse sido trazido (...) para um escritório de Lisboa(...).

(...) a que informações literárias estava grata a formação do meu espírito, abriria o espaço ponteado, em letras magnas o endereço chave LISBOA.” (p. 137)

Vagueava pela cidade captando o seu espírito. A sua vida concentrava-se na Baixa e gostava de ir ver o Tejo. Tal como Cesário Verde, captava as sensações através dos sentidos: a visão, a audição e o olfacto.

“O olfacto é uma vista estranha. Evoca paisagens sentimentais por um desenhar súbito do subconsciente.” (p.238)

Frequentava os cafés (como A Brasileira, o Nicola, e o Martinho da Arcada), onde escrevia muitas das suas obras. Nestes locais havia, também, tertúlias que reuniam escritores, artistas, filósofos, etc.

“Do terraço deste café olho tremulamente para a vida.”

Lisboa era realmente a cidade que Pessoa gostava de habitar, com a leitura da obra, apercebi-me também que Pessoa era um homem que não gostava de correr riscos e era bastante ligado aos seus locais habituais.

“Nunca vou para onde há risco. Tenho medo a tédio dos perigos” (p. 96)

“Entrei, no barbeiro no modo do costume, com o prazer de me ser fácil entrar sem constrangimento nas casas conhecidas. A minha sensibilidade do novo é angustiante: tenho calma só onde já tenha estado.” (p. 378)

Num dos seus textos, Bernardo Soares (que trabalhava na Rua dos Douradores) imaginava como seria se finalmente ficasse liberto do seu trabalho. No entanto, rapidamente se apercebe que teria pena, pois teria sentiria saudade (p.44). Incomodava portanto a Pessoa, o conceito de tempo, de como com o passar deste perdia as coisas que passavam com ele.

“Sinto o tempo como uma dor enorme. É sempre com uma comoção exagerada que abandono qualquer coisa. O pobre quarto alugado onde passei uns meses, a mesa do hotel de província onde passei sete dias, a própria triste sala de espera do comboio(...)” (p. 187)

O livro fala também da maneira de escrever de Pessoa; quando diz que prefere a prosa ao verso, não sei se fala como Bernardo Soares, ou se isso corresponde mesmo à sua pessoa.

“Prefiro a prosa ao verso, como modo de arte, por duas razões, das quais a primeira é minha é que não tenho escolha, pois sou incapaz de escrever em verso(...) Considero o verso como uma coisa intermédia, uma passagem da música para a prosa. Como a músico, o verso é limitado por leis rítmicas, que, ainda que não sejam as leis rígidas do verso regular, existem todavia como resguardar, coacções, dispositivos automáticos de opressão e castigo. Na prosa falamos livres. Podemos incluir ritmos musicais e contudo pensar. Podemos incluir ritmos poéticos, e contudo estar fora deles. Um ritmo ocasional de prosa faz tropeçar o verso.” (p. 209)

Descreve, noutro texto, a forma de prosa que usa.

“Tive, como muitos têm tido, a vontade pervertida de querer
ter um sistema e uma norma. E certo que escrevi antes da norma e do sistema; nisso, porém, não sou diferente dos outros.
Analisando-me à tarde, descubro que o meu sistema de estilo assenta em dois princípios, e imediatamente, e à boa maneira dos bons clássicos, erijo esses dois princípios em fundamentos gerais de todo estilo: dizer o que se sente exactamente como se sente - claramente, se é claro; obscuramente, se é obscuro; confusamente, se é confuso -; compreender que a gramática é um instrumento, e não uma lei.

Suponhamos que vejo diante de nós uma rapariga de modos masculinos. Um
ente humano vulgar dirá dela, "Aquela rapariga parece um rapaz". Um outro ente humano vulgar, já mais próximo da consciência de que falar é dizer, dirá dela, "Aquela rapariga é um rapaz". Outro ainda, igualmente consciente dos deveres da expressão, mas mais animado do afecto pela concisão, que é a luxúria do pensamento, dirá dela, "Aquele rapaz". Eu direi, "Aquela rapaz", violando a mais elementar das regras da gramática, que manda que haja concordância de género, como de número, entre a voz substantiva e a adjectiva. E terei dito bem; terei falado em absoluto, fotograficamente, fora da chateza, da norma, e da quotidianidade. Não terei falado: terei dito.” (p. 103)

Por fim devemos ainda citar a sua célebre frase. Que demonstra a maneira como Pessoa “ultrapassou” a literatura.

“Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo.” (p. 353)

No entanto, vemos também o “desespero” de não conseguir criar obras completas.

“Fazer uma coisa completa causa-me, talvez, mais inveja do que outro qualquer sentimento. É como um filho: é imperfeita como todo o ente humano, mas é nossa como os filhos são.

E eu, cujo espírito de crítica própria me não permite senão que veja os defeitos, as falhas, eu, que não ouso escrever mais que trechos, bocados, excertos do inexistente, eu mesmo, no pouco que escrevo, sou imperfeito também. Mais valeram pois, ou a obra completa, ainda que má, que em todo o caso é obra; ou a ausência de palavras, o silêncio inteiro da alma que se reconhece incapaz de agir.” (p. 105)

Pessoa gosta de reflectir sobre a maneira comos os outro o vêem.

"Muitas vezes para me entreter - porque nada entretém como as ciências, ou as coisas com jeito de ciências, usadas futilmente - ponho-me escrupulosamente a estudar o meu psiquismo através da forma como o encaram os outros. Raras vezes é triste o prazer, por vezes doloroso, que esta táctica fútil me causa.
Geralmente, procuro estudar a impressão geral que causo nos outros, tirando conclusões. Em geral sou uma criatura com quem os outros simpatizam, com quem simpatizam, mesmo, com um vago e curioso respeito. Mas nenhuma simpatia violenta desperto. Ninguém será nunca comovidamente meu amigo. Por isso tantos me podem respeitar." (p. 98)

“Sempre me tem preocupado, naquelas horas ocasionais de desprendimento em que tomamos consciência de nós mesmos como indivíduos que somos outros para os outros, a imaginação da figura que farei fisicamente, e até moralmente, para aqueles que me contemplam e me falam, ou todos os dias ou por acaso.” (p. 284)

Fernando Pessoa não se achava compreendido mas acreditava que no futuro o seria.

“Um dia talvez compreendam que cumpri, como nenhum outro, o meu dever-nato de intérprete de uma parte do nosso século; e, quando o compreendam, hão de escrever que na minha época fui incompreendido, que infelizmente vivi entre desafeições e friezas, e que é pena que tal me acontecesse. E o que escrever isso será, na época em que o escrever, incompreendedor, como os que me cercam, do meu análogo daquele tempo futuro. Porque os homens só aprendem para uso dos seus bisavós que já morreram. Só aos mortos sabemos ensinar as verdadeiras regras de viver.” (p. 182)

Ao passear por entre os textos consegui relacionar trechos com acontecimentos. Dou o exemplo do diálogo imaginário entre duas pessoas num café, que Pessoa escreve. Aí faz referência ao suicídio do seu amigo Mário de Sá-Carneiro (também poeta e prosador), apesar de não citar o seu nome.

“Ele pretendia descobrir e fixar o modelo de não completas a frases sem parecer fazê-lo. Ele costumava dizer-me que procurava o micróbio da significação.. suicidou-se, é claro, porque um dia reparou na responsabilidade imensa que tomara em si...” (p. 304)

“Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem factos, a minha história sem vida. São as minhas Confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho que dizer.”

(p.48)

Concluo assim a minha análise da obra, apesar de haver sempre muito mais por desvendar.

Maria Teixeira