quarta-feira, 30 de abril de 2008

Ainda a propósito do Memorial do Convento:

Respondendo a uma dúvida de Scarlatti quando vai visitar a passarola:

"[...] mas havendo esta ave de voar, como sairá, se não cabe na porta."

devendo nós ler aqui uma pergunta, que Saramago, apesar de estar em Espanha, não só não adoptou o princípio deste pais de anteceder as perguntas de uma interrogação, como elimina as habituais à língua nossa, facto que muito preocupou os alunos, mas já começam a habituar-se a este ritmo e esta respiração, como se previa.

Afirma Blimunda,

"Há um tempo para construir e um tempo para destruir, umas mãos assentaram as telhas deste telhado, outras o deitarão abaixo, e todas as paredes, se for preciso."

E cá estamos nós no intertexto:

Eclesiastes 3

1 Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.
2 Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3 tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar;
4 tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
5 tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar;
6 tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora;
7 tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
8 tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
9 Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?
10 Tenho visto o trabalho penoso que Deus deu aos filhos dos homens para nele se exercitarem.
11 Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a idéia da eternidade, se bem que este não possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim.
12 Sei que não há coisa melhor para eles do que se regozijarem e fazerem o bem enquanto viverem;
13 e também que todo homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho é dom de Deus.
14 Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe pode acrescentar, e nada se lhe pode tirar; e isso Deus faz para que os homens temam diante dele:
15 O que é, já existiu; e o que há de ser, também já existiu; e Deus procura de novo o que já se passou.
16 Vi ainda debaixo do sol que no lugar da rectidão estava a impiedade; e que no lugar da justiça estava a impiedade ainda.
17 Eu disse no meu coração: Deus julgará o justo e o ímpio; porque há um tempo para todo propósito e para toda obra.
18 Disse eu no meu coração: Isso é por causa dos filhos dos homens, para que Deus possa prová-los, e eles possam ver que são em si mesmos como os brutos.
19 Pois o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos brutos; uma e a mesma coisa lhes sucede; como morre um, assim morre o outro; todos têm o mesmo fôlego; e o homem não tem vantagem sobre os brutos; porque tudo é vaidade.
20 Todos vão para um lugar; todos são pó, e todos ao pó tornarão.
21 Quem sabe se o espírito dos filhos dos homens vai para cima, e se o espírito dos brutos desce para a terra?
22 Pelo que tenho visto que não há coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras; porque esse é o seu quinhão; pois quem o fará voltar para ver o que será depois dele?

Exposição sobre José Saramago














A CONSISTÊNCIA DOS SONHOS


Galeria D. Luís I
Palácio Nacional da Ajuda
24 de Abril a 27 de Julho 2008
de Segunda a Domingo(excepto quartas) das 10.00 às 19.00

(o meu agradecimento ao Alexandre que trouxe para a aula este flyer)

O agradecimento da escola pela poesia dita


Com uma peça das Oficinas de Cerâmica

Ainda o dia do Português


O Dr. Jorge Lino rodeado dos alunos da escola que, segundo ele, é o seu "laboratório".

terça-feira, 29 de abril de 2008

DIA MUNDIAL DO LIVRO

Foi no dia 23 de Abril. Celebrámos lendo poemas de um livro do poeta romeno Marin Sorescu, Simetria.
E sorteámos um livro.

SHAKESPEARE

Shakespeare criou o mundo em sete dias.

No primeiro dia fez o céu, as montanhas e os abismos da alma.
No segundo dia fez os rios, os mares, os oceanos
E os restantes sentimentos –
Que deu a Hamlet, a Júlio César, a António, a Cleópatra e a Ofélia,
A Otelo e a outros,
Para que fossem seus donos, eles e os seus descendentes,
Pelos séculos dos séculos.
No terceiro dia juntou todos os homens
E ensinou-lhes os sabores:
O sabor da felicidade, do amor, do desespero
O sabor ciúme, da glória e assim por diante,
Até esgotar todos os sabores.

Por esse tempo chegaram também uns indivíduos
Que se tinham atrasado.
O criador afagou-lhes compassivo a cabeça,
E disse que só lhes restava
Tornarem-se críticos literários
E contestarem a sua obra.
O quarto e o quinto dia reservou-os para o riso.
Soltou os palhaços
Para darem cambalhotas,
E deixou os reis, os imperadores
E outros desgraçados divertirem-se.
Ao sexto dia resolveu alguns problemas administrativos:
Forjou uma tempestade,
E ensinou ao rei Lear
O modo de usar uma coroa de palha.
Com os restos da criação do mundo
Fez o Ricardo III.

Ao sétimo dia viu se havia algo mais a fazer.
Os directores de teatro já tinham coberto a terra de cartazes,
E Shakespeare concluiu que depois de tanto esforço
Também ele merecia assistir ao espectáculo.
Mas antes disso, esfalfado de todo,
Foi morrer um pouco.

(1936-1996) Marin Sorescu

"Vos estis sal terrae"



O Pe António Vieira pelo Dr Jorge Lino.

O Dia Do Português na Escola


Iniciando-se de manhã e terminando no horário nocturno, teve vários tipos de celebrações, de que destacamos a presença de alguns convidados como foi o caso do Dr Jorge Lino, que mais uma vez nos honrou vindo dizer poetas portugueses e parte do Sermão de St º António aos Peixes.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

História inventada a partir do tema de A Arte da Fuga, de Bach

Era um dia de sol, porém com chuva, todos tinham ido ao cabeleireiro e tinham perfumado as roupas mais caras e com os melhores tecidos para aquela ocasião. Era o baptismo de Júlia. Toda a família estava presente excepto o avô, que ao vir de Viseu teve o desastre de furar um pneu e por isso ia chegar mais tarde. Os pais de Júlia estavam extremamente nervosos e não tinham grande jeito para receber os convidados, ou mesmo para segurar na bebé. Já estavam todos sentados, e o primo Francisco divertia-se a mandar papelinhos com a sua nova fisga.

O padre entra na igreja e caminha sobre a carpete vermelha ao fundo da qual a pequenina espera o reconhecimento de Deus. O evento já vai a meio, até que aparece o avô completamente encharcado, corre até ao altar, molha a cabeça na fonte de água benzida e diz: "sempre quis ser baptizado".

Ana Vale

12º K

Reflexão pessoal sobre o papel dos operários na construção do Convento de Mafra

Baseado também no poema “Perguntas de um Operário a um Leitor”, de Brecht

Nem sempre os acontecimentos históricos são descritos com veracidade. Normalmente vingam nos compêndios históricos os nomes dos reis, ou dos nobres que mandam construir um palácio, um convento ou uma igreja, mas poucas são as vezes, que se mencionam os nomes daqueles que realmente construíram o edifício – os operários, que muitas vezes eram obrigados a tal. A estes não lhes é prestado qualquer reconhecimento, quem fica mencionado para a posteridade é o rei ou o nobre.

O mesmo se passou, por exemplo, em relação à exposição dos acontecimentos da I Guerra Mundial e II Guerra Mundial, pois os nomes das figuras que conhecemos de ambas as Guerras são os nomes dos governantes, generais e comandantes que estiveram directamente relacionados, mas não são mencionados os nomes dos soldados que combatem em campo, pois eles são como uma “massa ” humana que só serviram para alcançar um fim. Cada vez que um batalhão de soldados vencia uma batalha, não eram os nomes deles que eram mencionados como heróis mas sim os dos seus superiores.

No Memorial do Convento denuncia a mesma “falsidade histórica”: quem fica directamente ligado à construção do Convento e Palácio de Mafra é D. João V (que o mandou edificar), quando este se limitou a obrigar quarenta mil homens a trabalhar na construção do complexo para que o término deste coincidisse com o dia do seu aniversário – 22 Outubro de 1730. Ao longo da obra encontramos várias alusões a esta “temática construtiva”:

“... vão na viagem José Pequeno e Baltazar...Francisco Marques...Manuel Milho...Vão outros Josés, e Franciscos, e Manuéis, serão menos os Baltazares, e haverá Joões, Álvaros, Antónios e Joaquins, ...Bartolomeus, e Pedros, e Vicentes, e Bentos, Bernardos e Caetanos, tudo o que é homem vai aqui, tudo quanto é vida também, sobretudo se atribulada, principalmente se miserável...”

“...Porém, farão a força. Foi para isso que vieram, para isso deixaram terras e trabalhos seus, trabalhos que eram também de força em terras que a força mal aparava...”

“Ordeno que todos os corregedores do reino se mande que reúnam e enviem para Mafra quantos operários se encontrarem nas suas jurisdições, sejam eles carpinteiros, pedreiros ou braçais, retirando-os, ainda que por violência, dos seus mesteres, e que sob nenhum pretexto os deixem ficar, não lhes valendo considerações de família, dependência ou anterior obrigação, porque nada está acima de vontade real, salvo a vontade divina e esta ninguém poderá invocar, o que fará em vão, porque precisamente para serviço dela se ordena esta providencia, tenho dito.”

“...à força quase todos...entrava nas casas, empurrava os cancelos dos quintais, saía ao campo a ver onde se escondiam os relapsos, ao fim do dia juntava dez, vinte, trinta homens...atavam-nos com cordas, variando o modo, ora presos pela cintura,...., ora ligados pelos tornozelos com galés ou escravos.”

“...deitavam-lhe a mão os quadrilheiros, batiam-lhe se resistia, muitos eram metidos a caminho a sangrar.”



Maria Galhano

12º I

terça-feira, 22 de abril de 2008

Concerto comentado: Quinteto deJazz

5ª feira, dia 24 de Abril, à porta da Fundação do lado da Av. de Berna, entre as as 9.30 e as 9.45

Fundação Calouste Gulbenkian

Pontos de encontro com o programa:
o jazz e as improvisações, a música de Bach e a música barroca em geral, tema e variações, a música de Bach como "escola" de aprendizagem para os músicos de jazz, a "Arte da Fuga" de Bach como tendo dado origem aos Exercícios de Estilo que estão a ser lidos na aula, com tema e variações estilísticas, os exercícios dos alunos, a escrita circular e "barroca" de Saramago em O Memorial do Convento, a música barroca de Domenico Scarlatti, no mesmo livro.

SUMÁRIOS DA SEMANA DE 21 A 24 DE ABRIL

1ª AULA:
Leituras de:
- Exercícios de estilo: versões "onomatopeia" e "lógica"
- Histórias de 1 minuto: "In Memoriam de K.H.G."
Memorial do Convento: leitura, análise estilística e das categorias da narrativa.
Prolepse e elipse.
Caracterização das personagens (directa e indirecta).

quarta-feira, 16 de abril de 2008

DIA DO PORTUGUÊS

Amanhã quinta-feira, dia 17, no Centro de Recursos com sessões de manhã, à tarde e à noite, vamos celebrar a nossa língua, a literatura, a poesia.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Texto construído com excertos de contos de Calvino lidos na aula

(CONVERSAS, talvez, DISPARATADAS, para quem ainda não aprendeu a andar no telhado) – EXCERTOS DOS CONTOS DE ITALO CALVINO.


(Nota: os sublinhados são as únicas partes do texto que não foram retiradas dos contos)



Empoleirado no telhado estava o general, num prédio cujo primeiro andar alojava uma enorme biblioteca, achado e perdido no mesmo instante.

Todos os que passavam pela rua estão a mil milhas de pensar

-Está um belo dia. –disse o general ao homem ao lado.

-Desculpe. Tem o sapato desatado.

-Quem mora aqui?

-Não sei dizer-lhe. Ele matava quem calhasse.

Contra sua vontade, continuou a sentir aquele mal estar.

-Olhe. Ainda está desatado.

Era como um olho que não o perdia de vista. Como olhos de alemão! Com movimentos lentos, retomaram a marcha pelo telhado. E agora avançavam com agressiva segurança. Não! Vão cair! Não conseguia livrar do coração essa dúvida.

Pedaços de céu azul endireitavam as moles nuvens.

-O irmão de Pietro tinha morrido num campo de concentração. – Disse-lhe, de repente - Foi o fim da nossa miséria.

-Ele chamava-se Pietro?

-Sim. – E a primeira coisa que lhe saltou à memória foi - Uma vez ele gritou do alto da colina, por baixo da minha janela, em línguas de um incêndio incolor: Se não mato o Alberto, matei muita gente para nada! Dizem que era estrangeiro.

-E depois?

-E depois, sem perder tempo, voltamos a jogar ao mata.

-Não havia nada a fazer?

-Não há.

-Não compreendo ... então não se importam que os matem?

-Matou todos menos o Alberto, não entende isso?

-Mas o tipo podia procurar o inimigo que lhe apetecesse?

-Não tivemos coragem para sermos nós mesmos e impedi-lo. Para isso teríamos de enfrentar lenços que as empregadas, emocionadas, deixavam cair do quarto andar. Foi mais ou menos isso. Eu tive de deixar o cavalo no corrimão e continuar a pé.

-Acamparam na biblioteca? Dizem que os livros contêm opiniões contrárias ao prestígio militar.

-Não. Quem disse isso?

-O soldado Tomás.

-O Tomás... ele lia em voz alta para um companheiro analfabeto... – o general continuava a apanhar recordações. Quem pode ler o que vai no coração dos chefes? – Finjo não pensar nisso... –e ficou quieto, a olhar fixamente as trevas.

Há vento. Recortando as sombras do telhado, um regimento dos céus avançava todo empertigado. Está uma bela noite e o céu é atravessado por mísseis. Os jardineiros andavam a regar o jardim, murmuram:

-O que peço ao duche é que me confirme como senhor da água.

A mangueira. O duche das flores.

-Estou alegre. – Continuava o general. O homem ao seu lado não percebeu. - É o sinal da profecia. Quando os frutos estão maduros, colhem-se.

-Como as profecias?

-Sim. E recomendo-lhe esta: Vamos pagar aos pobres, para roubarem por nossa conta. De vez em quando uma ou outra altercação... Honesto só houve esse tal, Pietro, que morreu de fome.

-Assim os ricos ficam cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais pobres! Por que morreu Pietro de fome?

-Porque ele deixava roubar tudo, e ele não roubava nada. Só assim ficaria bem com a sua consciência.

Silêncio.

-Creio que o carácter das pessoas depende da retrete...

Amanda Baeza

12ºJ nº3

Texto Feito a Partir dos Excertos de contos lidosnas Aulas


“Eu passava ali sozinho e ao acaso”, “o sol entrava na rua de esguelha” “recortando as sombras dos telhados”. Na rua “paliçadas de madeira incrustada e cartazes rasgados”. “Não passava quase ninguém”. “Eu estava a mil milhas de pensar”.

Curvei uma esquina, e ao fazê-lo pisei os meus próprios atacadores, “parar na rua para atar um sapato é aborrecido”. Ergui-me e deparei-me com um homem com “a boca prestes a inclinar-se num sorriso”.

Um sorriso era então uma coisa contida, sem grande emoção, como todo o ambiente daquela época. Estávamos num “país onde tudo era proibido menos o mata, não havia ninguém que achasse mal ou não se adaptasse, eles continuavam a jogar ao mata” alheios à contenção imposta. “Os ricos ficavam cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais pobres”. A repressão era constante. Apertei contra o corpo o meu saco que continha a minha leitura, o romance que eu lia vezes sem conta, escondido. “Os livros continham opiniões contrárias ao prestígio dos militares, a comissão examinava todos os livros da biblioteca”.

“Não percebia a razão das coisas, dos homens. E pus-me então a rir, e fiquei ali desorientado (…) achado e perdido no mesmo instante”.

Anoitecera, de repente “a minha sombra assustou-se com a lua”. Levantei os olhos para o céu, onde “o céu estival era atravessado pelos mísseis”. Disse-me uma voz: -É uma “guerra de religião”. Nesta cidade, num dia, “encontram-se três/quatro vezes as mesmas caras”, “era meu destino que o reencontrasse”, e ali estava o homem que quase me sorrira. Respondi-lhe “A guerra reencontrou uma face, e é de novo, a deles”. ““Proibiram-lhes o mata” o povo quer a revolução, dizem que “a fruta quando está madura colhe-se, as cabeças cortam-se. Se eu “deixaria morrer os frutos nos ramos””, observou. Ficámos em silêncio, queríamos ser os “heróis da liberdade”, “víamo-nos a nós a libertar a cidade da tirania”…”Heróis da liberdade”…

Ouviu-se uma voz a bramar ao longe “Os meus “súbditos só se preocupam em derrubar” o meu “governo”! Isto é tudo em nome de “questões antigas”! E “se não mato o Alberto, matei muita gente para nada”!”

“Apeteceu-me desaparecer numa nuvem”. “Não percebia a razão das coisas, dos homens”. Olhámo-nos, tínhamos de agir “só assim ficaríamos bem com a nossa consciência”. “O povo fez a revolução”! “O orgulho cessou de me morder por dentro”.

“Meti as mãos nos bolsos e continuei ali a passear, sozinho e ao acaso”.

Marta, 12º J

Texto consatruído a partir de de excertos de A de Campos e Italo Calvino

Texto de excertos

Então pensei:

- Agora vou matar um tal Alberto. Alberto, conheço-o bem. A julgar pela voz tem a cara cheia de sardas. Não se percebia bem que idade tinha, mas eu, que levo o dia a beber coisas, à noite, em vez de sair com o saco e a lanterna, ia matá-lo. Só assim ficaria bem com a consciência.

Vento havia-o, depois dei por isso. Não há nenhuma luz de archotes ou lanternas, pelo menos à distância de 2 milhas.

Esperei pelo melhor momento até ao amanhecer. Nunca tinha havido tanto calor a biblioteca, que era já por si um lugar fresco, agora imaginem cá fora, e eu, com o canivete na mão, só esperava que as lâminas não começassem a pender moles como línguas de cães.

Está um belo dia, e tudo calmo, porém o chefe só manda enquanto a cabeça estiver agarrada ao pescoço.

De qualquer modo, não o matarei à facada. Terei Alberto posto de corda ao pescoço, como bicho do demónio, ou então dou conta do trabalho com um míssil. Na nossa tribo já não se discute senão mísseis teledirigidos, então eu que fingi que estudei engenharia!

Mas como sempre sucede, aqueles chegam sempre quando menos se espera.

- Ia sendo apanhado! Não posso ficar aqui!

O que precisava mesmo era de alguém que o observasse sem ser visto...

- Vou ter de ser rápido e subtil, e acertar-lhe na grande esponja feita para absorver e irrigar.

Feito! Alberto cai ao chão tingindo-o de vermelho.

Só resta que venham buscar o corpo e o enterrem, porque provas não deixei.

Jorge Rosa nº17 12ºJ

Texto construído com excertos de vários contos de Calvino

Bernardo Castro

Nº: 9

Turma: 12º J

A luz iluminava desordenadamente a minha terra plantada à beira-mar, onde recortando as sombras, a leve e inexplicável perturbação nocturna ia-se dissipando de bairro em bairro num incêndio incolor. Aos primeiros alvores da madrugada, abria-se a cidade espantosa e límpida numa insólita animação, onde baloiçam eléctricos dia e noite. As nuvens empalideciam no horizonte por entre a mistura dos bigodes de fumo vertidos pelas chaminés.

Lanço gritos mas ninguém me ouve, é o silêncio absoluto por entre o caos, nem mesmo a mulher que cantava numa janela em frente ao meu prédio dava conta. Parei e pestanejei. Não era nada, nada mesmo o espelho do bom tempo primaveril, ideal para as famílias hibernadas no rígido Inverno compreenderem a importância de um calmo Março.

Não posso deixar a escuridão e o sono invadirem o meu quarto de novo e que tudo lá fora seja noite serena coberta de astros e cometas.

Era uma cidade encolhida de vai vem, é um encaixe de cheios e vazios, achados e perdidos no mesmo instante, onde cada coisa é consequência de outra. Deveria ter pensado isso antes, mas agora já é tarde para regressar à minha aldeia onde correm corpos celestes e onde não sinto cada dia que passa estar a viver no meio do declínio. Mas nem tudo é mau, as cores ardem à vista num mundo tão interessante citadino, mesmo nas manhãs de Outono, em que o clima não está propenso e o céu acabado de se raiar de pequenos flocos de nuvem, consta a incerteza pelo depois. É esta a mensagem que me alerta e desperta para o bom e mau. Atravesso as frias salas, apinhadas de livros a que só os ratos têm acesso, é como uma floresta que em vez de desbastar se tornava cada vez mais emaranhada, mas não me preocupava, apenas me interessa chegar ao lavatório e lançar a primeira chapa de água para acordar os meus olhos de sono. Assalta-me que a abundância que chapinho ao longo anos se acabe, como as horas que passo num bar que pouco a pouco se vai desvanecendo e todos regressam ao seu trabalho, esperando algo que não estava escrito.

Andava pela cidade farejando o vento e por entre a multidão indiferente, palavras de todos os dias germinavam sem esforço. Os meus olhos grandes, frios e líquidos viam gestos de saudação, irónicos comentários, soldados mundanos destilando suor, livros de opiniões contrárias ao difundido, porém tudo o que é real é racional, de outro modo deixara-me ir abaixo até ao desespero, por entre esquemas na cabeça e hipocrisias. Prefiro ignorar, só assim ficarei bem como a minha consciência e as pessoas continuarão a marcha nas pontas dos pés esquecendo que algum dia estas questões foram possíveis.

Odiava o que tinham sido, não o que são agora e por entre olhos de alguém que já vi mas não me lembro de quem são, fico aqui, sentado ao ouvir bater do último portão de recolha.

Apurava o ouvido com um certo medo da solidão, mas continuarei a passear sozinho ao acaso. Os únicos companheiros da longa jornada, trabalham de noite naquela rua isolada, paralela à vida que prosseguia sem pobres e ricos, apenas humanos que em mãos um tanto incertas carregam em botões de casacos que vão cobrindo a noite rígida. Esquecem-se que os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, onde prepotências e abusos andam nas estradas das proibições que vêm umas atrás das outras.

Sentia-me o único homem livre, capaz de matar o inimigo tempo ou quaisquer indiferentes motivos dos demais.

Se algum dia corrigir tal sociedade, teria de fazer ouvir, tinha de fazer frases curtas, mas mesmo assim tenho a sensação que às minhas perguntas a qualquer dirigidas, iria sempre os outros errantes responder, nunca chegando a ouvir a voz dos sábios.

Depois da minha morte, alguém deverá ficar a chamar, mas não creio que ela, a certeza, está na casa que procuramos. Mas se algum dia encontrar, antes de morrer, irei contar até 100 e se este silêncio continuar irei correr com ela e roubarei a essência, pois na verdade continuaremos a ser ladrões.



* as expressões sublinhadas são do aluno, as outras foram sendo reunidas ao longo da leitura dos contos feita na aula, durante o segundo período.

À maneira de Álvaro de Campos e Italo Calvino

Álvaro de Campos

De manhã acordo, ainda durmo.
Dirijo-me à banheira ainda a cambalear.
Vou contra tudo, tudo vem contra mim.
Abro a torneira e começa a cair água.
Parece chuva, mas dentro de casa. O som da água a passar pelos canos a cair pelo ralo todo aquele som me desperta.
Depois entro, molho a cabeça e a água escorre, parece que ainda mais barulho faz.
Naquele pequeno momento em que primeiramente abri a torneira pensei em todos os litros, decilitros que chegavam até ao chuveiro que cria pequenos fios de água, parecendo uma cortina de água.
No fim fecho a torneira e todo aquele movimento acaba, tudo parece para naquele momento.


Ruben Santos
nº21 12ºI

SUMÁRIOS DA SEMANA DE 14 A 18 DE ABRIL

1ª AULA:
Leitura de narrativas.
Memorial do Convento:
Contexto: no reinado de D. João V, o ouro do Brasil e o atraso económico; a tímida renovação cultural e científica.
Análise interpretativa e estilística.
Enumeração. Prolepse.
Paradoxos e contrastes.
Os símbolos.
2^AULA:
Leitura de excertos do Memorial do Convento.
A história e seus heróis: perspectiva oficial; perspectiva do narrador.
Produção de um texto de reflexão a partir da leitura do poema de Brecht: "Perguntas de um operário leitor".

terça-feira, 8 de abril de 2008

SUMÁRIOS DA SEMANA DE 7 A 11 DE ABRIL

1ª AULA:
Memorial do Convento
:
A música e o enredo.
A personagem "Scarlatti": entre a história e a ficção.
O narrador: tom irónico e interventivo.
Análise do título.
O herói colectivo: perspectiva social da história.
Entre a pedra e o voo, do peso à leveza: o paradoxo

2ª AULA
"Seguindo o rasto de Scarlatti"
Leitura, análise e interpretação de um excerto do Memorial. Cultismo, conceptismo, barroco, ironia e outros processos estilísticos, diálogos, contexto histórico.
Exercício de escrita narrativa a partir de excertos literários de contos vários.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Testes:

27 de Maio: 12º K
28 de Maio: 12ª I e J
com possibilidade de recuperação na aula seguinte.

Não esquecer de reler os critérios de avaliação onde está bem claro o peso relativo dos testes em relação aos outros modos de avaliação.

Reunião com encarregados de educação...

... da turma 12º K: dia 16 de Abril pelas 19.00 na sala de reuniões.

O BLOCO LITERÁRIO

Terá, este período, uma natureza diferente:

- Arte da Fuga ou Exercícios de Estilo, em que te inspirarás nos diferentes estilos dos textos do Raymond Queneau lidos aula a aula, a partir de um pequeno excerto narrativo do Memorial do Convento à tua escolha.
(mínimo de 8 exercícios)

- Fuga da Arte ou o Estilo dos Exercícios, para o que te inspirarás nos Contos de 1 Minuto, mantendo o estilo (a partir de um acontecimento banal criar uma narrativa insólita muito condensada) cuja temática pode decorrer do estudo da obra, de qualquer episódio da aula ou mesmo de um acontecimento do teu quotidiano extra-aula.
(mínimo de 8 contos)

Bibliografia

No terceiro período iniciaremos as aulas com leituras dos seguintes livros:

ÖRKÉNY, István. Histórias de 1 Minuto, vol1. Ed Cavalo de Ferro. Lisboa. 2004
QUENEAU, Raymond. Exercícios de Estilo. Ed. Colibri. Lisboa. 2000

SUMÁRIOS DA SEMANA DE 31 DE MARÇO A 4 DE ABRIL

1ª AULA:
Introdução ao modo narrativo (perspectiva narrativa, poética e estilística).
O bloco literário do aluno: "Arte da Fuga" ou "Exercícios de Estilo" e "Fuga da Arte" ou "O Estilo nos Exercícios".
Leitura de alguns textos e iniciação ao estilo de Saramago. A pontuação; leitura de textos de Saramago sobre o assunto e textos críticos de análise do seu estilo.


2ª AULA:
Leitura dos seguintes textos:
"Prognósticos" e "Arco-Íris" in Exercícios de Estilo de Raymond Queneau
e "Sobre o Grotesco" in Histórias de 1 Minuto
Audição de A Arte da Fuga, de J. S. Bach; identificação de tema e variações- Criação de uma pequena narrativa a partir do tema.
Audição de música de Domenico Scarlatti, para contextualizar a acção de Memorial do Convento.
Leitura de excertos do Memorial...: história e ficção, personagens, pontuação, contrastes (peso e leveza, ciência e superstição, realidade e sonho, pequenez e grandiosidade...).

terça-feira, 1 de abril de 2008

Critérios de avaliação

Recordo a informação aqui publicada nos primeiro e segundo períodos, a partir de um documento elaborado pelos professores de Português e aprovado em Conselho Pedagógico:

"No 11º e 12º anos, os docentes acharam que deviam ter mais flexibilidade na avaliação dos testes (sobretudo no caso dos alunos que irão fazer exame) e mais importância dada à participação nas aulas reflexo de mais maturidade e pesquisa e também, porque alguns trabalhos de casa são feitos em aula de modo mais interactivo. Assim, os critérios são: entre 50% e 60% para os testes e 10% para comportamento/atitudes/valores. Os 40% ou 30% respectivamente, serão divididos pelas actividades escritas e participação oral em sala de aula. (E ainda trabalhos diversos, visitas de estudo, etc.)"