segunda-feira, 12 de maio de 2008

Quem construiu? Uma ironia em torno da construção do convento...

Quem construiu?

Folheio o Memorial do Convento e deparo-me com um capítulo sobre a edificação grandiosa do Convento de Mafra. Leio algumas páginas e tento compreender se foi o grande rei D. João V a construí-lo, visto que demorou tantos anos, talvez tenha sido apenas ele, dia e noite a carregar pedra sobre pedra, talvez até pedra sobre pedra e a filha ao colo. Se o Convento foi erguido em homenagem ao seco ventre de D. Maria Ana que após tanto cima e baixo percorreu os conventos, capelas, igrejas, capelinhas, altares, igrejazinhas, conventozinhos, altarzinhos e de uma proposta de realização milagrosa de um tal padre franciscano que lhe iria trazer de novo água à terra donde germinaria a infanta D. Maria Barbara, por que não foi D. Maria Ana a construí-lo também? Talvez assim se tivesse acabado mais cedo e os franciscanos tivessem aproveitado melhor. Mas agora penso que se o Convento foi mandado erguer por D. João V na esperança de ter um filho, se D. Maria Ana rezou para o ter, se os franciscanos queriam o convento, por que não foram eles todos a construir? Assim, sim! Eles construiriam bastante mais rápido.

Parece que a democracia não é uma miragem apenas alcançada nos tempos modernos, leio aqui que o Convento foi construído por D. João V. Talvez apareçam mais uns nomes, uns tais de Américo, Bernardo, Carlos, Dionísio, Ernesto, Francisco, Guilherme, Hélio, Ivo, João, Luís, Mário, Neves, Osvaldo, Pedro, Queirós, Ru, Silva, Tavares, Ulisses, Valter, Xavier, Zeferino, mas esses, esses não interessam, apenas são eles os mandatários de tal obra. Foram até bastante cruéis, pois dia e noite chicotearam o pobre Rei, D. Maria Ana e os poucos franciscanos, para apressarem a obra.

Brecht dizia que quem edificou jamais foram os mandatários, apenas escravos que acreditavam, ou lhes fizeram acreditar.

Portugal já é um país democrático há bastante tempo, mas a Inquisição apenas servia para disfarçar o nosso lado mais humilde e bondoso, se não, para quê ajudar os nossos artistas a saírem do país e conhecerem novas culturas? Não divagarei mais, pois apenas sei que D. João V foi um homem justo e um grande construtor, construiu, inclusivamente, aos 28 anos, a Basílica de S. Pedro em Roma. Louvemos o grande trabalhador, aquele que acreditava na religião, na cultura e na edificação.

Bernardo Castro

Nº: 9

Turma: 12º J

Nenhum comentário: