Texto construído com excertos de vários contos de Italo Calvino
Era uma manhã de Outono, não com muito sol quando vi os olhos de alguém a olhar fixamente para mim... eram olhos frios, hostis. Queria qualquer coisa, mas não percebi o quê. O pouco do sol já subia alto no céu quando, instintivamente, baixou a cabeça. A coisa que mais me perturba nesta espera é o ar suspeito do indivíduo. Vou lá e combato-o, pensei eu. Senti apertos no coração enquanto percorria a fila de casas baixas e iluminadas, em direcção a ele. Ouviam-se marteladas por todos os lados, pareciam vindas dos olhos inimigos... Ao chegar-me a ele, vi pela primeira vez o homem dos olhos claros, era um zero à esquerda! Parecia que olhava fixamente para as trevas, como se aguardasse ordens.
§ - Desculpe – disse eu – tem um sapato desapertado!
ú - Cala-te!
§ - Hum?? Ninguém tem vontade de fazer nada esta manhã. Ouve-se um caminhar de gente pelas ruas planas, um solfejo de suspiros, enfim, parece que andam pela cidade farejando o vento.
ú - Durante meses esqueço-me que o vento existe – disse o outro.
§ - Mais vale tarde que nunca! Quem diria que nesta manhã me sentiria capaz de matar o inimigo. - Ficámos ali como se aguardassemos ordens.
ú - Já nada é proibido neste país.
§ - Trabalhei tanto para ter só o cansaço.
ú - Eu moro no rés-do-chão do pensamento, não fazer nada é a minha perdição.
§ - Dinheiro, nem vê-lo! Os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres ficam cada vez mais pobres.
ú - São todos ladrões!
§ - Não têm solidariedade por ninguém...
ú - Consciência, nem vê-la...
§ - Que um raio os parta!!! Basta de comédias na minha alma!
ú - Este regimento está perdido.
§ - Aqueles cobardolas da polícia parece que têm medo de combater o crime.
ú - Dava-lhes uma medalha por cada inimigo que matassem...
§ - A única coisa que dizem é: Alto! Quem está aí?
ú Riu-se e disse – Tenho a sensação de ter alguém atrás de mim. Como um olho que não me perdesse de vista.
§ - Isso não é nada! Vamos tomar uma cerveja?
ú - Pode ser. Já não nos escapam – disse ele.
E lá foram eles, em direcção ao café! Eu em contrapartida nunca conseguirei dizer nada ao falar. É por isso que estou a escrever...
ALEXANDRE RODRIGUES
12ºK / Nº1
NOTA: as expressões sublinhadas são do aluno, as outras são as retiradas dos contos e de F Pessoa.
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