segunda-feira, 12 de maio de 2008

Texto construído com excertos de vários contos de Italo Calvino

Texto construído com excertos de vários contos de Italo Calvino

Era uma manhã de Outono, não com muito sol quando vi os olhos de alguém a olhar fixamente para mim... eram olhos frios, hostis. Queria qualquer coisa, mas não percebi o quê. O pouco do sol já subia alto no céu quando, instintivamente, baixou a cabeça. A coisa que mais me perturba nesta espera é o ar suspeito do indivíduo. Vou lá e combato-o, pensei eu. Senti apertos no coração enquanto percorria a fila de casas baixas e iluminadas, em direcção a ele. Ouviam-se marteladas por todos os lados, pareciam vindas dos olhos inimigos... Ao chegar-me a ele, vi pela primeira vez o homem dos olhos claros, era um zero à esquerda! Parecia que olhava fixamente para as trevas, como se aguardasse ordens.

§ - Desculpe – disse eu – tem um sapato desapertado!

ú - Cala-te!

§ - Hum?? Ninguém tem vontade de fazer nada esta manhã. Ouve-se um caminhar de gente pelas ruas planas, um solfejo de suspiros, enfim, parece que andam pela cidade farejando o vento.

ú - Durante meses esqueço-me que o vento existe – disse o outro.

§ - Mais vale tarde que nunca! Quem diria que nesta manhã me sentiria capaz de matar o inimigo. - Ficámos ali como se aguardassemos ordens.

ú - Já nada é proibido neste país.

§ - Trabalhei tanto para ter só o cansaço.

ú - Eu moro no rés-do-chão do pensamento, não fazer nada é a minha perdição.

§ - Dinheiro, nem vê-lo! Os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres ficam cada vez mais pobres.

ú - São todos ladrões!

§ - Não têm solidariedade por ninguém...

ú - Consciência, nem vê-la...

§ - Que um raio os parta!!! Basta de comédias na minha alma!

ú - Este regimento está perdido.

§ - Aqueles cobardolas da polícia parece que têm medo de combater o crime.

ú - Dava-lhes uma medalha por cada inimigo que matassem...

§ - A única coisa que dizem é: Alto! Quem está aí?

ú Riu-se e disse – Tenho a sensação de ter alguém atrás de mim. Como um olho que não me perdesse de vista.

§ - Isso não é nada! Vamos tomar uma cerveja?

ú - Pode ser. Já não nos escapam – disse ele.

E lá foram eles, em direcção ao café! Eu em contrapartida nunca conseguirei dizer nada ao falar. É por isso que estou a escrever...

ALEXANDRE RODRIGUES

12ºK / Nº1

NOTA: as expressões sublinhadas são do aluno, as outras são as retiradas dos contos e de F Pessoa.

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