quarta-feira, 4 de junho de 2008

À maneira do heterómino Álvaro de Campos

À maneira do heterómino Álvaro de Campos

Rodo a torneira

Ela cai, desamparada, bem quente

Bem quente, escalda a epiderme

E já me queima, me ferve o sangue

E então?

Só o choque com o extremo

Me consegue consolar

Só assim me adormece, me aquece e faz esquecer

Os tremores gelados, o reflexo do pensamento

Que também tremelica

E simula um abraço quente de que preciso

O que bastava para me sossegar

Enquanto me envolve

Talvez me limpe por segundos

E me abstraia o palco atafulhado da minha mente

Apertado, no qual as personagens

Já tropeçam nas preocupações contornáveis

Por ali espalhadas

Para a água circundante

Lanço olhares rígidos

Observo-a tão fugaz e igual a si mesma

Peço-lhe que me limpe os pesos da alma

Se ao menos eles se desprendessem

Com um mero sacudir da cabeça,

Caíssem e se afogassem,

E corressem com ela, a uma velocidade tao despachada

Numa fuga sem retorno

Talvez aí a palavra “banho”

Ganhasse novo significado

E a pureza não se cingisse só ao que é palpável

Ah se pudesse desintoxicar

As frases que ecoam na mente

Numa breve cirurgia removesse

O que é maligno

Descarregar so um pouco, mas que seria tanto

Esta caixa acorrentada e inconfortável

E assim, ver de longe afundar

Os contaminados sentimentos que

Por aqui me ferem

Ela continua a correr

Alheia ao que penso dela

Ao pedido que lhe faço

Não me ouve, tão pouco precisa

Dos pesados pensamentos, que lhe regateiam

Não os quer,

Quer correr veloz, sem entraves

Fico com eles, pois a mim estão bem pregados

E como graves parasitas não irão descolar.

Vejo-lhe os últimos resquícios,

Parece até esboçar um copioso sorriso

Por se ver livre de mim

Como foge das latejantes

Lamúrias de mim.

Andreia Silva, nº6 – 12ºK

segunda-feira, 2 de junho de 2008

À maneira de Raymond Queneau, Exercices de Style

Exercícios de estilo

A partir de um excerto de Memorial do Convento:

Página 39

Ao outro dia, aí pelas onze horas dele, bateu à portaria do convento um estudante, cujo convém dizer logo que desde há tempos andava pretendendo o hábito da casa, frequentando com grande assiduidade os frades dela, e esta informação se dá, primeiro, por ser verdadeira e sempre servir a verdade para alguma coisa, e, segundo, para auxiliar quem se dedique a decifrar actos cruzados, ou palavras cruzadas quando as houver, enfim, bateu o estudante à portaria e disse que queria falar ao prelado.

Notas:

Num dia; pelas onze horas. Estudante frequente e assíduo bate a porta do convento porque quer falar ao prelado. A informação é verdadeira, porque a verdade para alguma coisa e auxilia a decifrar actos e palavras cruzadas que existam.

Retrógado:

Dizendo que queria falar com o prelado, a portaria bateu o estudante, enfim, palavras cruzadas ou actos cruzados, quando os há, são decifrados por quem se dedique auxiliando, segundo a teoria que sempre serve a verdade para alguma coisa e primeiro, por ser verdade a informação de que os frades da casa são com grande assiduidade frequentados, pois o hábito está pretendendo há tempos, convém dizer, o tal um estudante que à portaria do convento bateu, aì pelas onze horas, ao outro dia.

Hesitações:

Terá sido no outro dia? Não me recordo bem, mas sim, acho que foi… De manhã? À tarde? Talvez ai pelas onze horas dele. Bem, bateu acho que um estudante, agora não sei se terá sido à portaria de um convento ou de uma capela, mas acho que há algum tempo que pretendia alguma coisa… Mas o quê? Talvez o hábito da casa… Sim, não tenho a certeza, mas acho que frequentava o sítio muitas vezes. Mas será esta informação verdadeira? Talvez. E será que serve a verdade para alguma coisa perante tanta dúvida? Não sei… Nem sei se haja quem se dedique a decifrar actos e palavras cruzadas, e muito menos sei se as há. Ai, enfim… acho que ele bateu a portaria e queria ou falar ao prelado ou… se calhar era à sua irmã, não tenho a certeza.

Euforia; Exclamação:

Bem! No outro dia, aí pelas onze horas, houve um acontecimento inédito! Um estudante bateu à porta do convento! E mais! Não é que já andava há tempos a frequentar o mesmo com uma extraordinária assiduidade? E tenho a certeza do que digo, porque primeiro se esta informação foi-me dada e tenho a certeza que se me foi dada é por ser verdadeira e porque a verdade há-de servir para qualquer coisa! E depois, eh pá… mas que acontecimento, ainda nem estou em mim! Bem, como eu estava a dizer, segundo porque há quem goste de decifrar estes casos maravilhosos da vida! Foi fenomenal, nem eu tinha ouvido acontecimento mais polémico há tanto tempo! E o mais engraçado de tudo, é que o estudante até bateu a porta e pediu para falar ao prelado! Inacreditável, não?!

Contra-capa de livro:

Um extraordinário romance que nos leva a reflectir sobre a verdadeira essência da verdade, no seu mais puro estado. Um romance que nos faz sonhar, ver e reviver as nossas próprias experiências através da história de um estudante que se torna num protagonista cúmplice para com o leitor, fazendo-o questionar-se sobre as nossas fontes e sobre quem as questiona e decifra. Um romance para ler e reler, para saborear e aproveitar.

“bateu o estudante à porta e disse…”

Carta Oficial:

Ex. Senhor;

Venho por este meio comunicar-lhe o mais recente acontecimento que por aqui se pode assistir. No outro dia tivemos a honra de termos sido visitados por um jovem estudante, bastante interessado nas nossas instalações e no hábito da casa. Podemos nós lhe garantir o seu interesse, devido à sua inabalável assiduidade e à veracidade destes factos, que provam que a verdade existe para alguma coisa, pois existem testemunhas que confirmam este prestável caso. Podemos ainda acrescentar-lhe que o jovem estudante veio com boas intenções e estamos confiantes de que haverá uma próxima visita por parte deste.

Prometemos estar atentos à situação e enviaremos notícias, se as houver.

Com os melhores cumprimentos;

O Prelado.

Estrangeirado:

At the other day, aí pelas eleven horas, an etudant knock knock knocking at the convento’s door, que há tempos o frequentava avec grand assiduidade. Esta informação é verdadeira porque wahr serve sempre para quelque chose e depois, auxilia quem se dedica a decifrar these crazy acts or words cruzadas quando they shows. Well, knock knock knockin on the convento’s door et the pequeno estudante queria um “parlápié” com o prelado.

Problema/Enunciado:

Considerando o dia X com as horas Y, resolva a seguinte equação tendo em conta o tempo real desde quando o estudante que se dedicava fielmente à frequência do convento bateu à sua porta até ao momento em que pediu para falar com o prelado, tendo em conta que a verdade M se encontra num plano de auxilio M’ que deverá usar para decifrar ou actos cruzados denominados por L ou palavras cruzadas denominadas por K. Resolva a equação de forma a que P seja verdadeiro e que P’ sirva para alguma coisa.

Joana Rosa, 12º K

Contos de um minuto, á maneira de István Örkény

(Alguns dos contos do Bernardo:)


O
titulo não é tudo

Encontro-me no supermercado rodeado de produtos onde apenas uma pequena brecha deixava ver o seu interior e aspecto, o resto são apenas slogans apetecíveis. Decidi comprar todos os produtos e colocá-los à prova. Comprei pasta de dentes, cd’s, livros, escovas, máquinas com diferentes funções, desodorizantes, seriais, comida enlatada, todos os tipos de pão e apenas me sentia realizado com letras e nunca com rótulos discretos, esbranquiçados e de óptimo aspecto interior.

Enquanto esperava na fila deparei-me no chão a ler um tal Memorial do Convento, passaram duas horas e a fila tinha apenas avançado um pouco e eram mais berros e desesperos suados do que propriamente contentamento por estar a desperdiçar as horas livres do fim de semana inerte e inútil.

Quando concluí o livro, passadas sensivelmente seis horas, chegou a minha vez... Decidi então arrumar todos os produtos e promoções marcantes, apercebo-me que na vida tudo é mais do que um mero resumo empobrecido.

Cedo o meu lugar e volto a secção esbranquiçada.

Pressentimentos

Acordei num dia primaveril e senti que algo de bom se ia suceder. Arranjei-me, maquilhei-me, tudo o que uma mulher na casa dos trinta tem direito quando sente a sua beleza desvanecendo.

Tomei o pequeno-almoço, sorri apenas por ser Sábado e desloquei-me para um passeio até ao jardim perto de minha casa. Estendi a manta e dei início à minha “leitura das dez horas”. Fazia um sol tranquilo, porém um homem interpôs-se como mais uma árvore que protegiam as delicadas flores do jardim.

Conversou comigo, fez-me sentir o porquê daquele bom pressentimento. Elogiou-me e convidou-me para jantarmos.

Hoje encontro-me num sótão fechado há vários dias, vejo apenas os tímidos raios e as árvores de outro ângulo. Ele trancou-me e usa-me como quer. Não quero morrer solteira, por isso sorrio sempre que ele vem abusar ou bater-me, pois ainda tenho o pressentimento que algo de bom vai acontecer.

Uma noite perdida

Todos os dias, ao fim do trabalho, encontro-me no mesmo pub com as minhas amigas. Ficamos lá até por volta das dez da noite. Foram assim passando os anos, depois do trabalho, ida ao pub com as amigas. No princípio era apenas com as amigas, depois foi o álcool e ali me encontrava sozinha, bêbada a ser expulsa todas as noites pelo patrão.

Todos os dias via-o, estava sentada a dez metro da minha mesa a olhar para mim. Por vezes ia sozinho e sei que era para me ver, tal como eu que apenas bebia 5 wiskeys para me distrair e na esperança de perder o medo e chegar-me até ele. Por vezes éramos os últimos do bar, mas nunca saíamos juntos ou tínhamos amigos em comum. Uma vez levantei-me e ele levantou-se, aproximámo-nos a 8 metros, mas ambos nos sentámos logo de seguida.

O nosso amor apenas resulta a dez metros.

Os anormais

Nasci como qualquer criança normal neste mundo, deficiente, até um pouco sobre dotada, visto que os médicos descobriram que aos cinco anos utilizava 3% do meu cérebro. Ainda me lembro vagamente da minha mãe coxa e de braços e mãos pequenas abraçada a mim e o meu pequeno pai de cinquenta e sete centímetros sorrindo pela novidade. Frequentei a escola onde pude aprender a pintar e a relacionar-me com outros deficientes. Lá conhecia o João, o meu melhor amigo, cego e sem a mão esquerda e a Francisca, uma rapariga deslumbrante, paraplégica e sem o braço direito. Foi por quem eu me apaixonei e ao fim de quinze anos de namoro, casei e tivemos um filho. Infelizmente ele nasceu normal, saudável a nível físico e mental, porém com grande força ultrapassamos cada dias as barreiras que se vão impondo pois o instinto de pais é mais forte do que qualquer normalidade. Apesar de alguns colegas gozarem com o Rodrigo, ele foi bem recebido e nós amamo-lo como se fosse anormal como quase todas as crianças no mundo.

Toalha de mesa

Nasci na toalha de mesa, uma rápida improvisação caseira dos médicos para o meu súbdito parto. Comi a minha primeira refeição na toalha de mesa. Já estudei múltiplas vezes na toalha de mesa. Já jantei com muitos amigos na toalha de mesa e até namoradas na toalha de mesa. A toalha de mesa já fez de toalha e de forro para o sofá. Pedi a minha mulher em casamento na toalha de mesa e de seguida perdi a virgindade na toalha de mesa. Fizemos o no primeiro e segundo filho na toalha de mesa depois de um jantar romântico. Jantei em cima da toalha de mesa no primeiro dia da nova casa, chorei pela morte dos meus avós e ri pelo nascimento dos nossos dois filhos. Com ela me enforco hoje, no dia 28 de Abril de 2008, onde futuramente a minha ex-mulher quando vier buscar as últimas malas e os papeis do divórcio assinados, irá chorar na toalha de mesa que me matou...

Desespero

Estava um pouco cansado, depois de um longo dia de trabalho árduo e decidi entrar no bar mais próximo. Percorri apenas alguns metros de escuridão até encontrar uma placa em néon. Entrei e pedi um copo de wiskey. Enquanto os problemas eram esquecidos em cada golo, entra uma mulher que se senta ao meu lado. Vem com a pintura borrada e desabafa a sua história.

Fala-me que ainda hoje se tentou suicidar. Atirou-se da ponte mas sem sucesso, apenas consegui arranjar alguns hematomas. Fala-me que tentou afogar-se a semana passada, mas a água tinha sido corta nesse mesmo dia. Conta-me que tentou ingerir comprimidos, no entanto tivera uma gastroenterite e nem teve tempo de ingerir mais do que uma caixa.

Sentada no bar, morreu de coma alcoólico.



Bernardo, 12º J

Reflexão pessoal...

... acerca de um poema de Brecht e do Memorial do Convento

Durante toda a história, e assim o continuará a ser, somente as pessoas importantes são reconhecidas por terem tido as ideias ou simplesmente por estarem à frente dos projectos. Os reis, os príncipes, os políticos, estes sim ficam na história, quando quem deveria ficar eram os operários, que foram roubados às suas famílias e obrigados a trabalhar à força”amarrados em cordadas”, como aconteceu em Mafra.

Citando o poema de Bretch onde ele pergunta “Foram os reis que arrastaram os blocos de pedra?”, e pergunto também eu, foram? Claro que não! Seria com certeza um episódio engraçado ver suas altezas, com os trajes riquíssimos da época a arrastarem blocos de pedra, amarrados e obrigados a trabalhar pelos soldados e pelo povo.

Nenhum dos homens que sacrificou a sua felicidade e a sua liberdade foi glorificado e compensado pelo seu esforço, todos os Manéis, Josés, Pedros, cairam no esquecimento ou nem sequer chegaram a ser lembrados. Apenas ficou o João, quinto do nome na tabela real, que edificou um convento, o de Mafra, carregando ele próprio a sua abóbada e todas as pedras que o compunham, este pesava muito pouco e cabia talvez numa mesa, pois era apenas uma maqueta.

Mónica Santos, 12º K

Variações sobre um tema à maneira de Raymon Queneau (Exercices de Style)

A Arte Da Fuga

Miguel Fernandes, nº18 12ºk 2008

Excerto Original do Memorial Do Convento a partir do qual as variações foram feitas:

Já se deitaram. Esta é a cama que veio da Holanda quando a rainha veio da Áustria, mandada fazer de propósito pelo rei, a cama, a quem custou setenta e cinco mil cruzados, que em Portugal não há artífices de tanto primor, e, se os houvesse, sem dúvida ganhariam menos. A desprevenido olhar nem se sabe se é de madeira o magnifico móvel, coberto como está pela armação preciosa, tecida e bordada de florões e relevos de ouro, isto não falando do dossel que poderia servir para cobrir o papa.


Pormenorização

Já se deitaram, era perto das 22h42. Esta é a cama de pinho envernizado, com acabamentos feitos em Portugal, que veio da Holanda quando a rainha veio da Áustria, mandada fazer de propósito pelo rei, a cama de pinho envernizada e com acabamentos feitos em Portugal, a quem custou setenta e cinco mil cruzados, que em Portugal, país que fica ao lado de Espanha formando a península ibérica com a mesma, note-se que não há artífices de tanto primor, e, se os houvesse, sem dúvida ganhariam menos. A desprevenido olhar nem se sabe se é madeira o magnífico móvel, coberto e revestido como está pela armação preciosa que envolve e aguenta todo o peso do magnífico móvel, tecida e bordada de florões e relevos de ouro, material mineral raríssimo, isto não falando do dossel que poderia servir para cobrir o papa.

Gerúndio

Já se iam deitando. Esta é a cama que tendo vindo da Holanda quando a rainha veio da Áustria mandada fazer de propósito pelo rei, a cama, a quem custando setenta e cinco mil cruzados, que em Portugal não havendo artífices de tanto primor, e, se os houvesse, sem dúvida ganhariam menos. A desprevenido olhar nem se sabe se é de madeira o magnifico móvel, coberto com está pela armação preciosa, tecida e bordada de florões e relevos de ouro, isto não falando do dossel podendo servir para cobrir o papa.

Interrogativo

Já se deitaram? É esta a cama que veio da Holanda quando a rainha veio da Áustria, mandada fazer de propósito pelo rei? A cama, a quem custou setenta e cinco mil cruzados? Que em Portugal não há artífices de tanto primor, e, se os houvesse ganhariam menos? E a desprevenido olhar? Como se saberá se é de madeira o magnifico móvel, coberto como está pela armação preciosa? E o porquê de tecida e bordada de florões e relevos de ouro? E poderá o dossel servir para cobrir o papa?

Presente

Deitam-se. Esta é a cama que veio da Holanda quando a rainha vem da Áustria, mandada fazer de propósito pelo rei, a cama que custou setenta e cinco mil cruzados, que em Portugal não há artífices de tanto primor, e, se os há sem dúvida que ganham menos. A desprevenido olhar não se sabe se é de madeira o magnifico móvel, coberto como está pela armação preciosa, tecida e bordada de florões e relevos de ouro, isto para não falar do dossel que pode servir para cobrir o papa.

Ciganês

Aí deitaram-sí. Esta é a cama que veio da Holanda quando a rainha aí esse sapo, veio da Áustria, aí que foi amandada da fazerí de propósito pelo rei baia, aquela acostou setenta e cinco milí cruzados, que em Portugal ná há artífices de tanto valorí, e, se existem aí sem dúvida que ná recebem tanto. Quanto mais aos olhares daqueles sabugos dum raio que nan sabem nem olhar para o piriquito ,nem sabem se é de madeira o raio da cama, que anda coberto como anda pela armação que é tão preciosa que se morra o meu avô, e odepois ainda é tecida e bordada de florões e relevos de ouro, báia isto para ná falar do dossel que ainda quase dava para cobrir o papa.

Sinónimos

Já foram dormir. Esta é a cama que mandaram vir da Holanda quando a rainha regressou da Áustria, criada especialmente pelo rei, a cama, a quem a despesa saiu em setenta e cinco mil guerreiros que tomavam parte nas cruzadas, que em Portugal não há inventor de tanta perfeição, e, se os houvesse, sem qualquer questão venceriam pouco. A desacautelado olhar nem se sabe se é de parte lenhosa compacta e dura das plantas o esplendoroso objecto de mobília, tapado como está pela vestimenta metálica valiosa, cozida e bordada de florões e altos e baixos de matéria mineral muito valiosa, isto não dizendo do dossel que virá a ser útil para tapar sua santidade.

Arte da Fuga – Bach

Era uma vez uma menina que ao acordar a meio da noite hipnotizada com uma música que se ouvia baixinho no seu quarto, foi levada por ela para um palácio abandonado no meio do nada. Caminhando a noite toda por ruas largas sem movimento nenhum, a menina ia sozinha na companhia de nuvens misteriosas que dançavam, enrolavam-se e ganhavam formas ao ritmo da música hipnótica, ao lado dela. Ondulantes e rítmicas, pareciam peixes a nadar no mar, ora cheias de cor, ora brancas quase transparentes como as ondas a rebentar na areia...

ARTE DA FUGA, DE BACH

Esta música faz-me lembrar uma tarde calma, não com muito sol, mas com um ar fresco, como se este nos massajasse a face de modo delicado... Faz-me avançar no tempo e sonhar com o dia em que estarei sentado num jardim com a família que irei formar um dia.. Alegrias e tristezas vão rodear-nos, mas tudo será ultrapassado por novos acontecimentos e essas variações de sentimentos vão servir para nos tornar mais fortes para o que há-de vir...

Alexandre Rodrigues

12ºK - Nº1

Superioridade Subjectiva

Superioridade Subjectiva

É verdade que ao longo da História da Humanidade se deram grandes vitórias e grandes feitos.

Mas será que, tal como questiona Brecht, as vitorias foram apenas resultado do esforço dos grandes nomes? Será que não é de louvar o papel daqueles cujo nome não foi pronunciado?

Considerando o caso da edificação do Convento de Mafra, posso concluir que, embora contra a própria vontade, e sobre rígidas ordens de superiores, o mérito da construção deste edifício pertenceu àqueles “quarenta e cinco mil trabalhadores”, que, “amarrados em cordadas”, se submeteram à vontade de um ser que se viu obrigado a edificar um enormíssimo convento e palácio, para que o seu desejo de poder trazer ao mundo um herdeiro se realizasse.

Mas eis que não é este, o rei, que por mão própria vai defender a honra , mas sim o povo, que posto desta forma lhe vai cumprir a missão. Por outras palavras, é pela mão do povo que o rei consegue o herdeiro.

É esta errada ideia de superioridade que Brecht tenta mostrar através do seu texto.

Jorge Rosa nº 17, 12ºJ


sexta-feira, 23 de maio de 2008

SUMÁRIOS DA SEMANA DE 19 a 23 DE MAIO

Exercício escrito de síntese de leitura.
O tempo em O Memorial: dimensão cronológica, física e psicológica.
Os símbolos.
Matriz do teste.
Tempo da história e tempo do discurso. Tempo cronológico e tempo psicológico.
O narrador: presença, ciência e ponto de vista. características especiais deste narrador.
A visão crítica e simbólica do narrador.
O valor dos símbolos.
Revisão de matéria estudada.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

MATRIZ DO TESTE

MATRIZ de Objectivos e Conteúdos:

Interpreta: Excerto da obra

Distingue, analisa e identifica: Espaço e tempo: físico, social cronológico, psicológico

Identifica e conhece: Características e formas de caracterização das personagens

Conhece, distingue, analisa, identifica: Planos narrativos

Distingue, analisa, identifica: Narrador, características especiais, presença, ciência, pontos de vista

Analisa, identifica e pontua: Linguagem: registos de língua, pontuação, campo lexical, processos estilísticos

Preenche: Texto/reflexão sobre Memorial

Reflecte criticamente e desenvolve um de quatro temas de desenvolvimento, propostos de entre os seguintes sete (60 a 100 palavras):

- O enriquecimento do romance através da simbologia
- Relação título/conteúdo
- História, ficção e fantástico
- Como são os novos heróis segundo Saramago
- Contrastes e paradoxos neste romance
- Significado ideológico e simbólico da construção da passarola
- Traços distintivos e características deste narrador, sua relação com a acção e as personagens

sexta-feira, 16 de maio de 2008

SUMÁRIOS DA SEMANA DE 12 A 16 DE MAIO

Memorial do Convento: As personagens, os dois polos- o poder e as vítimas.
O herói colectivo, excepcionalidade, simpatias do narrador, a personagem dinâmica, do histórico ao fantástico.
Análise de personagens: o rei e o poder, Baltazar, Blimunda e Bartolomeu.
Memorial do Convento: o herói colectivo e os heróis individuais. Características das personagens. Personagens planas, modeladas, estáticas e dinâmicas. Excentricidade. Simbologia dos nomes. Processos de heroicização. Simpatia vs ironia do narrador. Características históricas, ficcionais e fantásticas. Espaço físico, social e psicológico.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Perguntas de um Operário Leitor


Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima refulgente de oiro moravam os seus construtores?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a lendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias.
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os banquetes?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas

Bertolt Brecht

Superioridade Subjectiva

Superioridade Subjectiva

É verdade que ao longo da História da Humanidade se deram grandes vitórias e grandes feitos.

Mas será que, tal como questiona Brecht, as vitorias foram apenas resultado do esforço dos grandes nomes? Será que não é de louvar o papel daqueles cujo nome não foi pronunciado?

Considerando o caso da edificação do Convento de Mafra, posso concluir que, embora contra a própria vontade, e sobre rígidas ordens de superiores, o mérito da construção deste edifício pertenceu àqueles “quarenta e cinco mil trabalhadores”, que, “amarrados em cordadas”, se submeteram à vontade de um ser que se viu obrigado a edificar um enormíssimo convento e palácio, para que o seu desejo de poder trazer ao mundo um herdeiro se realizasse.

Mas eis que não é este, o rei, que por mão própria vai defender a honra , mas sim o povo, que posto desta forma lhe vai cumprir a missão. Por outras palavras, é pela mão do povo que o rei consegue o herdeiro.

É esta errada ideia de superioridade, que Brecht tenta mostrar através do seu poema.

Jorge Rosa nº 17, 12ºJ

CONVENTO DE SARAMAGO

CONVENTO DE SARAMAGO:

Quem construiu o Convento de Mafra? Foi um rei, não foi? Como se chamava? João, não era? D. João V! Ah! Mas foi ele quem carregou as pedras? Não. Acho que não. Quero dizer... ele era perito a elevar abóbadas só com duas mãos e a encaixar o chapéu da igreja na cabeça oca... no entanto, abóbadas não são pedras.

As pedras carregou-as outro João, sem mais nenhum dom que ter força nos braços e nas pernas, e muito menos quinto, que ele é o sétimo de uma família de dez.

E mais outro João.

E mais outro.

Infinitos Joões que tanto podiam ser Pedros ou Miguéis. Como uma escala musical, nunca, nunca acaba. Só mudam os nomes, que podiam ser o mesmo, no fundo, são todos homens.

Então... acho que ao finalizar a construção deste monumento, deve ter havido uma confusão, uma troca de papéis, de nomes... é que o Dom João Quinto não pegou numa única pedra... só tocou uma, que agora está debaixo de terra... e mesmo assim é a ele que se aponta o dedo e diz-se “sim senhor, a mais importante realização pessoal de D. João V foi o projecto da construção de um edifício gigantesco!”. Então e quem o construiu? Foi o Sem Dom João Para Além da Força dos Seus Braços e Nunca Quinto! Ele e os outros tantos, que J. Saramago não se importou de nomear um a um.

Isto faz uma certa confusão, pois até nem foi o rei João (que tem um dom qualquer, o quê, não sei, talvez saber encher sacos de homens?), quem desenhou o projecto. Foi Ludwig, este teve sorte, não esqueceram o seu nome. Então e os que endireitaram as muralhas? Desses só se lembra o mármore.

Já que há bocado falámos de escalas, por que não de notas? Cada nota é um homem, todos juntos fazem um, neste caso, Convento, uma música! Mas de quem é o nome? Do compositor, quem juntou todos estes homens. Isto é. Notas.

No entanto, alguém parou alguma vez para pensar e identificar “aquela nota chama-se Lá” e aquela “Ré”?

Se isso acontecesse com os nomes dos homens, se alguém fosse justo e apontasse os nomes de toda a gente... Quilos de papel. Se calhar foi isso. Procurou-se poupar em papel para gastar em pedra.

Amanda Baeza, 12ºJ nº3

Reflexão Pessoal a Propósito de um Poema de Brecht e de Memorial do Convento

Reflexão Pessoal a propósito de um Poema de Brecht e de Memorial do Convento

A obra Memorial do Convento revela como parte da sua essência uma preocupação a nível social e histórico. A história desta obra tem um 'novo' herói, um 'novo' ponto de vista, uma perspectiva realista.
Ao contrário do que a maioria das histórias, bem como do próprio ensino da história nos incutem, focando a acção da realeza, o autor preocupa-se em salientar a outra e ignorada face: o povo.
Também Brecht ao escrever um poema no qual um leitor operário se questiona relativamente a quem lutou e executou os grandes feitos, alerta o leitor (ou ouvinte) para a mesma questão, a outra face, a perspectiva do povo.
Ambos vêm questionar-se acerca dos verdadeiros heróis da História, afirmando que é o povo o verdadeiro herói valoroso da história.
Brecht cita grandes nomes da história a quem estão associados grandes feitos, e os restantes?
Os restantes evidencia Saramago ao dedicar uma página do seu romance à enumeração de nomes, de homens comuns, mas extraordinários pelo seu feito, A construção do convento.
Ambos se questionam mais além, ambos querem ir mais fundo do que apenas a um nome, desejam exaltar o verdadeiro construtor, lutador, conquistador. Os trabalhadores na construção do convento, podem ser associados à metáfora do título do poema de Brecht, de um leitor operário, ou seja, um trabalhador.
O que nos remete então para uma ideologia de defesa e valorização dos trabalhadores. Saímos da obra para os autores, sempre com a mesma essência, a mesma base. Estas preocupações revelam os ideais pessoais dos homens por detrás dos textos. Os ideais de ideologias democráticas, de liberdade, e de defesa de todos, da maioria, do antigo 'povo' e da grande sociedade de hoje e de sempre.
Marta, 12º J

Quem construiu? Uma ironia em torno da construção do convento...

Quem construiu?

Folheio o Memorial do Convento e deparo-me com um capítulo sobre a edificação grandiosa do Convento de Mafra. Leio algumas páginas e tento compreender se foi o grande rei D. João V a construí-lo, visto que demorou tantos anos, talvez tenha sido apenas ele, dia e noite a carregar pedra sobre pedra, talvez até pedra sobre pedra e a filha ao colo. Se o Convento foi erguido em homenagem ao seco ventre de D. Maria Ana que após tanto cima e baixo percorreu os conventos, capelas, igrejas, capelinhas, altares, igrejazinhas, conventozinhos, altarzinhos e de uma proposta de realização milagrosa de um tal padre franciscano que lhe iria trazer de novo água à terra donde germinaria a infanta D. Maria Barbara, por que não foi D. Maria Ana a construí-lo também? Talvez assim se tivesse acabado mais cedo e os franciscanos tivessem aproveitado melhor. Mas agora penso que se o Convento foi mandado erguer por D. João V na esperança de ter um filho, se D. Maria Ana rezou para o ter, se os franciscanos queriam o convento, por que não foram eles todos a construir? Assim, sim! Eles construiriam bastante mais rápido.

Parece que a democracia não é uma miragem apenas alcançada nos tempos modernos, leio aqui que o Convento foi construído por D. João V. Talvez apareçam mais uns nomes, uns tais de Américo, Bernardo, Carlos, Dionísio, Ernesto, Francisco, Guilherme, Hélio, Ivo, João, Luís, Mário, Neves, Osvaldo, Pedro, Queirós, Ru, Silva, Tavares, Ulisses, Valter, Xavier, Zeferino, mas esses, esses não interessam, apenas são eles os mandatários de tal obra. Foram até bastante cruéis, pois dia e noite chicotearam o pobre Rei, D. Maria Ana e os poucos franciscanos, para apressarem a obra.

Brecht dizia que quem edificou jamais foram os mandatários, apenas escravos que acreditavam, ou lhes fizeram acreditar.

Portugal já é um país democrático há bastante tempo, mas a Inquisição apenas servia para disfarçar o nosso lado mais humilde e bondoso, se não, para quê ajudar os nossos artistas a saírem do país e conhecerem novas culturas? Não divagarei mais, pois apenas sei que D. João V foi um homem justo e um grande construtor, construiu, inclusivamente, aos 28 anos, a Basílica de S. Pedro em Roma. Louvemos o grande trabalhador, aquele que acreditava na religião, na cultura e na edificação.

Bernardo Castro

Nº: 9

Turma: 12º J

A propósito do tema da "Arte da Fuga" de Bach

Arte da fuga

Esta música faz-me lembrar uma festa do séc. XVIII no palácio real, onde uma multidão ouve e admira quem está a tocar. Imagino um homem de estatura média (para o gordinho), com uma peruca branca encaracolada, de vestes escuras aveludadas com bordados dourados, meias brancas e sapatos de salto um pouco alto com um laçarote à frente. Vejo-o compenetrado na sua música com uma certa rigidez, que depressa desaparece ao ouvir os aplausos…

Texto construído com excertos de vários contos de Italo Calvino

Texto construído com excertos de vários contos de Italo Calvino

Era uma manhã de Outono, não com muito sol quando vi os olhos de alguém a olhar fixamente para mim... eram olhos frios, hostis. Queria qualquer coisa, mas não percebi o quê. O pouco do sol já subia alto no céu quando, instintivamente, baixou a cabeça. A coisa que mais me perturba nesta espera é o ar suspeito do indivíduo. Vou lá e combato-o, pensei eu. Senti apertos no coração enquanto percorria a fila de casas baixas e iluminadas, em direcção a ele. Ouviam-se marteladas por todos os lados, pareciam vindas dos olhos inimigos... Ao chegar-me a ele, vi pela primeira vez o homem dos olhos claros, era um zero à esquerda! Parecia que olhava fixamente para as trevas, como se aguardasse ordens.

§ - Desculpe – disse eu – tem um sapato desapertado!

ú - Cala-te!

§ - Hum?? Ninguém tem vontade de fazer nada esta manhã. Ouve-se um caminhar de gente pelas ruas planas, um solfejo de suspiros, enfim, parece que andam pela cidade farejando o vento.

ú - Durante meses esqueço-me que o vento existe – disse o outro.

§ - Mais vale tarde que nunca! Quem diria que nesta manhã me sentiria capaz de matar o inimigo. - Ficámos ali como se aguardassemos ordens.

ú - Já nada é proibido neste país.

§ - Trabalhei tanto para ter só o cansaço.

ú - Eu moro no rés-do-chão do pensamento, não fazer nada é a minha perdição.

§ - Dinheiro, nem vê-lo! Os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres ficam cada vez mais pobres.

ú - São todos ladrões!

§ - Não têm solidariedade por ninguém...

ú - Consciência, nem vê-la...

§ - Que um raio os parta!!! Basta de comédias na minha alma!

ú - Este regimento está perdido.

§ - Aqueles cobardolas da polícia parece que têm medo de combater o crime.

ú - Dava-lhes uma medalha por cada inimigo que matassem...

§ - A única coisa que dizem é: Alto! Quem está aí?

ú Riu-se e disse – Tenho a sensação de ter alguém atrás de mim. Como um olho que não me perdesse de vista.

§ - Isso não é nada! Vamos tomar uma cerveja?

ú - Pode ser. Já não nos escapam – disse ele.

E lá foram eles, em direcção ao café! Eu em contrapartida nunca conseguirei dizer nada ao falar. É por isso que estou a escrever...

ALEXANDRE RODRIGUES

12ºK / Nº1

NOTA: as expressões sublinhadas são do aluno, as outras são as retiradas dos contos e de F Pessoa.

Texto com base em xcertos dos contos lidos no 2º período


Ainda há pouco tempo era uma manhã de Outono, não com muito sol, em que acordava bem disposta e tudo era perfeito e claro como a água.

Hoje, é um belo dia de Março, que de belo devo dizer que não tem nada a não ser a Primavera a sussurrar baixinho. A coisa que mais me perturba nesta espera, é ver o dia a passar e não saber nada de nada, não haver um único sinal de vida. Antes costumava dizer “Tenho os olhos ainda cheios de sono”, mas agora já não diz nada. Eu em contrapartida nunca conseguirei dizer nada ao falar. É por isso que escrevo. Aliás, mesmo quando o tentei fazer, para me fazer ouvir, tinha de lançar frases curtas, quase gritando. Eu tentei e acho que até chegou a dizer qualquer coisa, mas não percebi o quê. E acho que era importante, mas continuei a lançar as minhas frases curtas. Instintivamente baixou a cabeça à altura da do cavalo e ao mesmo tempo afastámos os olhos um do outro, como se estivéssemos a procura de outro. Temos um ar suspeito, e mais que nunca, parece-me.

“Vejo-te nervoso” – disse eu, passado um bocado. Mas ficou quieto a olhar fixamente para as trevas. E nunca mais respondeu… Oh, não era assim. Não era assim que imaginávamos esta luta.

Joana Rosa, 12º K

Reflexão

Reflexão

Para a edificação do Convento de Mafra, foram necessários quarenta e cinco mil trabalhadores que, apanhados à força e contra a sua vontade, foram amarrados em cordadas e enviados para Mafra, tudo pelas ordens e caprichos do Rei, pois exigia que a sagração da basílica se fizesse em 1730, no dia do seu aniversário.

É um facto que, em todos os relatos de grandes obras ou grandes feitos históricos, é-nos dada a informação de que foi o rei quem fez essas obras, foi o rei que, sozinho conseguiu marcar a história da nação com mais um grande feito, e por isso é recordado para sempre e estudado por nós e pelos que virão.

Mas terão sido de facto os reis a trabalhar horas a fio, a gastar a sua própria energia, o seu próprio corpo e o seu próprio suor para a edificação dos nossos grandes monumentos? Será que foram os reis que arrastaram os blocos de pedra para construir os seus magníficos palácios e habitações? Não, não foram.

Então e os trabalhadores que serviram os reis? “Para onde foram os pedreiros na noite em que ficou pronta a muralha da China?”. Não merecerão eles uma abordagem nos nossos livros de história? Por que não os destacam a eles também, em vez de só destacarem o rei? Afinal, foram eles a gastar as horas das suas vidas, horas a trabalhar em vez de poder estar com as suas famílias nas suas casas a passar bons momentos.

Os trabalhadores que participaram na construção do Convento de Mafra, terão tido eles a oportunidade de poder lá entrar depois de este estar acabado? Ou participar numa festa? Afinal, o Convento é tanto do rei como deles. O dinheiro que conseguiu pagar foi o do rei, mas o suor que o conseguiu erguer foi o dos trabalhadores. Será que a nobreza pensou alguma vez assim? Será que mesmo assim continuou a ver nestes trabalhadores só um mísero povo, com quem tinha vergonha de ter alguma coisa a ver? Sim, e isso podemos nós ver no Memorial do Convento, onde José Saramago retratou bem todos os trabalhadores e todos os criados e pessoal do rei, todos os seus caprichos. Sempre com um tom de ironia como acompanhamento.

Joana Rosa, 12º K

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Concurso

Informação via Conselho Executivo:

VENHA COM O MUSEU DA ÁGUA VISITAR A EXPO SARAGOÇA 2008!

O Museu da Água da EPAL está oferecer uma viagem a uma turma do ensino secundário à Exposição Internacional Saragoça 2008, durante os dias 24, 25 e 26 de Junho. Esta turma terá como missão representar o nosso país no dia 25 de Junho, no Encontro do Fórum Jovem, onde vão estar escolas a nível de toda a Europa.

Para concorrer a esta viagem, basta apenas fazer um pequeno trabalho em powerpoint com 20 diapositivos no máximo, com uma pequena investigação sobre o Rio Ebro e um rio português à vossa escolha. O trabalho para ser validado basta apenas trazer o título “Como eu sinto o meu rio e o rio Ebro que não conheço”, ficha técnica (nome da escola, contactos, n.º de alunos da turma + professor responsável) e a investigação solicitada.

Envie o quanto antes o vosso trabalho para raquel.soares@sairdacasca.com e vão connosco até Saragoça!

A data limite é 26 de Maio.

Para mais informações sobre a Expo Saragoça consulte o site www.expozaragoza2008.es

Em caso de dúvida contacte o n.º 21 315 30 66/ 21 355 82 96.

Boa sorte!

Com os melhores cumprimentos,

Margarida Ruas

Directora do Museu da Água da EPAL

quarta-feira, 7 de maio de 2008

O ritmo no jazz

No vídeo abaixo, José Meneses explica de que modo a mesma melodia é tocada segundo um ritmo clássico e seguidamente com a acentuação de jazz.

Sessão de Jazz na Gulbenkian com o quinteto de José Meneses

Sobre esta maravilhosa sessão aqui havemos de escrever, para já aqui fica um vídeo do Augusto do 12º K.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Ainda o dia do Português

Maria Cristina Peres, também poeta e professora.

















Poeta convidada e ex-professora Maria Azenha lendo poemas do seu último livro e um inédito.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Ainda a propósito do Memorial do Convento:

Respondendo a uma dúvida de Scarlatti quando vai visitar a passarola:

"[...] mas havendo esta ave de voar, como sairá, se não cabe na porta."

devendo nós ler aqui uma pergunta, que Saramago, apesar de estar em Espanha, não só não adoptou o princípio deste pais de anteceder as perguntas de uma interrogação, como elimina as habituais à língua nossa, facto que muito preocupou os alunos, mas já começam a habituar-se a este ritmo e esta respiração, como se previa.

Afirma Blimunda,

"Há um tempo para construir e um tempo para destruir, umas mãos assentaram as telhas deste telhado, outras o deitarão abaixo, e todas as paredes, se for preciso."

E cá estamos nós no intertexto:

Eclesiastes 3

1 Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.
2 Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3 tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar;
4 tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
5 tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar;
6 tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora;
7 tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
8 tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
9 Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?
10 Tenho visto o trabalho penoso que Deus deu aos filhos dos homens para nele se exercitarem.
11 Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a idéia da eternidade, se bem que este não possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim.
12 Sei que não há coisa melhor para eles do que se regozijarem e fazerem o bem enquanto viverem;
13 e também que todo homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho é dom de Deus.
14 Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe pode acrescentar, e nada se lhe pode tirar; e isso Deus faz para que os homens temam diante dele:
15 O que é, já existiu; e o que há de ser, também já existiu; e Deus procura de novo o que já se passou.
16 Vi ainda debaixo do sol que no lugar da rectidão estava a impiedade; e que no lugar da justiça estava a impiedade ainda.
17 Eu disse no meu coração: Deus julgará o justo e o ímpio; porque há um tempo para todo propósito e para toda obra.
18 Disse eu no meu coração: Isso é por causa dos filhos dos homens, para que Deus possa prová-los, e eles possam ver que são em si mesmos como os brutos.
19 Pois o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos brutos; uma e a mesma coisa lhes sucede; como morre um, assim morre o outro; todos têm o mesmo fôlego; e o homem não tem vantagem sobre os brutos; porque tudo é vaidade.
20 Todos vão para um lugar; todos são pó, e todos ao pó tornarão.
21 Quem sabe se o espírito dos filhos dos homens vai para cima, e se o espírito dos brutos desce para a terra?
22 Pelo que tenho visto que não há coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras; porque esse é o seu quinhão; pois quem o fará voltar para ver o que será depois dele?

Exposição sobre José Saramago














A CONSISTÊNCIA DOS SONHOS


Galeria D. Luís I
Palácio Nacional da Ajuda
24 de Abril a 27 de Julho 2008
de Segunda a Domingo(excepto quartas) das 10.00 às 19.00

(o meu agradecimento ao Alexandre que trouxe para a aula este flyer)

O agradecimento da escola pela poesia dita


Com uma peça das Oficinas de Cerâmica

Ainda o dia do Português


O Dr. Jorge Lino rodeado dos alunos da escola que, segundo ele, é o seu "laboratório".

terça-feira, 29 de abril de 2008

DIA MUNDIAL DO LIVRO

Foi no dia 23 de Abril. Celebrámos lendo poemas de um livro do poeta romeno Marin Sorescu, Simetria.
E sorteámos um livro.

SHAKESPEARE

Shakespeare criou o mundo em sete dias.

No primeiro dia fez o céu, as montanhas e os abismos da alma.
No segundo dia fez os rios, os mares, os oceanos
E os restantes sentimentos –
Que deu a Hamlet, a Júlio César, a António, a Cleópatra e a Ofélia,
A Otelo e a outros,
Para que fossem seus donos, eles e os seus descendentes,
Pelos séculos dos séculos.
No terceiro dia juntou todos os homens
E ensinou-lhes os sabores:
O sabor da felicidade, do amor, do desespero
O sabor ciúme, da glória e assim por diante,
Até esgotar todos os sabores.

Por esse tempo chegaram também uns indivíduos
Que se tinham atrasado.
O criador afagou-lhes compassivo a cabeça,
E disse que só lhes restava
Tornarem-se críticos literários
E contestarem a sua obra.
O quarto e o quinto dia reservou-os para o riso.
Soltou os palhaços
Para darem cambalhotas,
E deixou os reis, os imperadores
E outros desgraçados divertirem-se.
Ao sexto dia resolveu alguns problemas administrativos:
Forjou uma tempestade,
E ensinou ao rei Lear
O modo de usar uma coroa de palha.
Com os restos da criação do mundo
Fez o Ricardo III.

Ao sétimo dia viu se havia algo mais a fazer.
Os directores de teatro já tinham coberto a terra de cartazes,
E Shakespeare concluiu que depois de tanto esforço
Também ele merecia assistir ao espectáculo.
Mas antes disso, esfalfado de todo,
Foi morrer um pouco.

(1936-1996) Marin Sorescu

"Vos estis sal terrae"



O Pe António Vieira pelo Dr Jorge Lino.

O Dia Do Português na Escola


Iniciando-se de manhã e terminando no horário nocturno, teve vários tipos de celebrações, de que destacamos a presença de alguns convidados como foi o caso do Dr Jorge Lino, que mais uma vez nos honrou vindo dizer poetas portugueses e parte do Sermão de St º António aos Peixes.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

História inventada a partir do tema de A Arte da Fuga, de Bach

Era um dia de sol, porém com chuva, todos tinham ido ao cabeleireiro e tinham perfumado as roupas mais caras e com os melhores tecidos para aquela ocasião. Era o baptismo de Júlia. Toda a família estava presente excepto o avô, que ao vir de Viseu teve o desastre de furar um pneu e por isso ia chegar mais tarde. Os pais de Júlia estavam extremamente nervosos e não tinham grande jeito para receber os convidados, ou mesmo para segurar na bebé. Já estavam todos sentados, e o primo Francisco divertia-se a mandar papelinhos com a sua nova fisga.

O padre entra na igreja e caminha sobre a carpete vermelha ao fundo da qual a pequenina espera o reconhecimento de Deus. O evento já vai a meio, até que aparece o avô completamente encharcado, corre até ao altar, molha a cabeça na fonte de água benzida e diz: "sempre quis ser baptizado".

Ana Vale

12º K

Reflexão pessoal sobre o papel dos operários na construção do Convento de Mafra

Baseado também no poema “Perguntas de um Operário a um Leitor”, de Brecht

Nem sempre os acontecimentos históricos são descritos com veracidade. Normalmente vingam nos compêndios históricos os nomes dos reis, ou dos nobres que mandam construir um palácio, um convento ou uma igreja, mas poucas são as vezes, que se mencionam os nomes daqueles que realmente construíram o edifício – os operários, que muitas vezes eram obrigados a tal. A estes não lhes é prestado qualquer reconhecimento, quem fica mencionado para a posteridade é o rei ou o nobre.

O mesmo se passou, por exemplo, em relação à exposição dos acontecimentos da I Guerra Mundial e II Guerra Mundial, pois os nomes das figuras que conhecemos de ambas as Guerras são os nomes dos governantes, generais e comandantes que estiveram directamente relacionados, mas não são mencionados os nomes dos soldados que combatem em campo, pois eles são como uma “massa ” humana que só serviram para alcançar um fim. Cada vez que um batalhão de soldados vencia uma batalha, não eram os nomes deles que eram mencionados como heróis mas sim os dos seus superiores.

No Memorial do Convento denuncia a mesma “falsidade histórica”: quem fica directamente ligado à construção do Convento e Palácio de Mafra é D. João V (que o mandou edificar), quando este se limitou a obrigar quarenta mil homens a trabalhar na construção do complexo para que o término deste coincidisse com o dia do seu aniversário – 22 Outubro de 1730. Ao longo da obra encontramos várias alusões a esta “temática construtiva”:

“... vão na viagem José Pequeno e Baltazar...Francisco Marques...Manuel Milho...Vão outros Josés, e Franciscos, e Manuéis, serão menos os Baltazares, e haverá Joões, Álvaros, Antónios e Joaquins, ...Bartolomeus, e Pedros, e Vicentes, e Bentos, Bernardos e Caetanos, tudo o que é homem vai aqui, tudo quanto é vida também, sobretudo se atribulada, principalmente se miserável...”

“...Porém, farão a força. Foi para isso que vieram, para isso deixaram terras e trabalhos seus, trabalhos que eram também de força em terras que a força mal aparava...”

“Ordeno que todos os corregedores do reino se mande que reúnam e enviem para Mafra quantos operários se encontrarem nas suas jurisdições, sejam eles carpinteiros, pedreiros ou braçais, retirando-os, ainda que por violência, dos seus mesteres, e que sob nenhum pretexto os deixem ficar, não lhes valendo considerações de família, dependência ou anterior obrigação, porque nada está acima de vontade real, salvo a vontade divina e esta ninguém poderá invocar, o que fará em vão, porque precisamente para serviço dela se ordena esta providencia, tenho dito.”

“...à força quase todos...entrava nas casas, empurrava os cancelos dos quintais, saía ao campo a ver onde se escondiam os relapsos, ao fim do dia juntava dez, vinte, trinta homens...atavam-nos com cordas, variando o modo, ora presos pela cintura,...., ora ligados pelos tornozelos com galés ou escravos.”

“...deitavam-lhe a mão os quadrilheiros, batiam-lhe se resistia, muitos eram metidos a caminho a sangrar.”



Maria Galhano

12º I