segunda-feira, 28 de abril de 2008

Reflexão pessoal sobre o papel dos operários na construção do Convento de Mafra

Baseado também no poema “Perguntas de um Operário a um Leitor”, de Brecht

Nem sempre os acontecimentos históricos são descritos com veracidade. Normalmente vingam nos compêndios históricos os nomes dos reis, ou dos nobres que mandam construir um palácio, um convento ou uma igreja, mas poucas são as vezes, que se mencionam os nomes daqueles que realmente construíram o edifício – os operários, que muitas vezes eram obrigados a tal. A estes não lhes é prestado qualquer reconhecimento, quem fica mencionado para a posteridade é o rei ou o nobre.

O mesmo se passou, por exemplo, em relação à exposição dos acontecimentos da I Guerra Mundial e II Guerra Mundial, pois os nomes das figuras que conhecemos de ambas as Guerras são os nomes dos governantes, generais e comandantes que estiveram directamente relacionados, mas não são mencionados os nomes dos soldados que combatem em campo, pois eles são como uma “massa ” humana que só serviram para alcançar um fim. Cada vez que um batalhão de soldados vencia uma batalha, não eram os nomes deles que eram mencionados como heróis mas sim os dos seus superiores.

No Memorial do Convento denuncia a mesma “falsidade histórica”: quem fica directamente ligado à construção do Convento e Palácio de Mafra é D. João V (que o mandou edificar), quando este se limitou a obrigar quarenta mil homens a trabalhar na construção do complexo para que o término deste coincidisse com o dia do seu aniversário – 22 Outubro de 1730. Ao longo da obra encontramos várias alusões a esta “temática construtiva”:

“... vão na viagem José Pequeno e Baltazar...Francisco Marques...Manuel Milho...Vão outros Josés, e Franciscos, e Manuéis, serão menos os Baltazares, e haverá Joões, Álvaros, Antónios e Joaquins, ...Bartolomeus, e Pedros, e Vicentes, e Bentos, Bernardos e Caetanos, tudo o que é homem vai aqui, tudo quanto é vida também, sobretudo se atribulada, principalmente se miserável...”

“...Porém, farão a força. Foi para isso que vieram, para isso deixaram terras e trabalhos seus, trabalhos que eram também de força em terras que a força mal aparava...”

“Ordeno que todos os corregedores do reino se mande que reúnam e enviem para Mafra quantos operários se encontrarem nas suas jurisdições, sejam eles carpinteiros, pedreiros ou braçais, retirando-os, ainda que por violência, dos seus mesteres, e que sob nenhum pretexto os deixem ficar, não lhes valendo considerações de família, dependência ou anterior obrigação, porque nada está acima de vontade real, salvo a vontade divina e esta ninguém poderá invocar, o que fará em vão, porque precisamente para serviço dela se ordena esta providencia, tenho dito.”

“...à força quase todos...entrava nas casas, empurrava os cancelos dos quintais, saía ao campo a ver onde se escondiam os relapsos, ao fim do dia juntava dez, vinte, trinta homens...atavam-nos com cordas, variando o modo, ora presos pela cintura,...., ora ligados pelos tornozelos com galés ou escravos.”

“...deitavam-lhe a mão os quadrilheiros, batiam-lhe se resistia, muitos eram metidos a caminho a sangrar.”



Maria Galhano

12º I

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