quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Diário da aula de 3 de Outubro de 2007

“[...]Olho e comovo-me,
Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,
[...]”

A Caeiro


Hoje, aconteceu qualquer coisa numa aula quando alguém recebeu uma notícia muito triste. Os outros alunos, que estavam ainda um bocadinho dispersos (foi ao princípio e eu mostrava-me algo aborrecida porque não paravam de entrar "às pinguinhas"), ficaram estranhamente centrados e nesse momento fosse o que fosse que eu lhes dissesse (disse muito pouco, preferi que o silêncio se fizesse ouvir) entrava-lhes directamente no coração.

Estávamos a ler um poema de Alberto Caeiro que praticamente falava daquilo. A poesia, quando o é, mesmo quando parece referir-se a banalidades, fala sempre das coisas essenciais. Este poema falou mais do que qualquer discurso meu. Posso estar enganada, mas penso que pelo menos por momentos perceberam o que é ou o que pode ser a poesia, para além das metáforas e das antíteses e das aliterações: uma imensa verdade silenciosa a meio caminho entre o ruído da fala e o milagroso cintilar do silêncio.

Risoleta

Um comentário:

Anônimo disse...

No meio das palavras, da alegria e da tristeza, salta o silêncio. Há quem diga que ele é de ouro pois quando nada se diz podemos saber tudo em silêncio. Podia dar uma aula toda em silêncio e os alunos aprenderem muito mais...apenas pensando, apenas sonhando, apenas escrevendo e descobrindo-se. Não está no programa mas pode estar no coração. Como o poema que nos comove.