quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Já que falamos de "mar"...

... e a propósito d'Os Lusíadas:



[...] Ninguém contava, todavia, que a tempestade viesse tão brava. Durante horas o Maria Eduarda foi sacudido entre vales, montanhas e túneis líquidos e mesmo a marinhagem mais afeita aos mares do estreito cuidava ser aquela a última tempestade que via e evocava instintivamente as velhas orações da infância. O Comandante Passanha não se deixou impressionar. Tinha já visto muito mundo, a sua vida estava recheada de contenciosos com a natureza e não era uma samatra vulgar que lhe ia aquentar o sangue-frio. Tanto mais que tinha confiança no navio, lenho rijo, de boas madeirras, há pouco querenado nos estaleiros de Viana. Assim se fez amarrar à roda do leme, logo aos primeiros rompantes do vento, e decidiu dar tino à marujada, porque o cumprimento rigorosos das ordens, mesmo inúteis, é boa cura para o medo e a desesperança. Os homens do mar - sabia-o o capitão - têm de ter sempre que fazer, em quaisquer circunstâncias, ou é mais que certo sair dislate. [...]

in
CARVALHO, Mário de. O Capitão Passanha. Lisboa. Expo 98. 1997

(Este livro (e esta colecção: 89 mares) existe no Centro de Recursos)

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