quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Fernando Pessoa: desmascarar o poeta

Fernando Pessoa, não era só um, foram vários. Não era o Pessoa, mas sim pessoas. Ele rodeou-se nos meandros de um mundo fictício, encarnando “personnas”, figuras irreiais aos olhos dos demais, mas para ele tão distintos e presentes. Estas criaturas muito conscientes que permeavam o seu inconsciente, não iam além de simulações características da tendência de Fernando para a recriação de “eus” poéticos, os heterónimos. Todas as Pessoas que sobressaltavam em Pessoa tinham índoles tão vincadas, o que fazia com que tais personagens fictícias parecessem mesmo viver dentro do poeta. Foram os autores, que o Fernando real não era, todos com uma escrita diferente. Pessoa era a base de uma árvore poética da qual os ramos seguiam várias direcções sem nunca se soltarem da sua origem. Onde a base não chegava, chegavam os ramos. Portanto, no momento de comunhão com a escrita, o poeta que fisicamente pegava na caneta vivia no inconsciente, uma passagem a outra realidade, despia a alma, e trajava consoante queria para se reinventar as palavras. Ele era a voz das vozes que criou, mas que com ele nada tinham a ver.

Obra poética

O corpo da sua carreira é todo ele formado por heterónimos, pseudónimos e semi-heterónimos. Ao todo 72 nomes. De todas estas personagens poéticas, Fernando Pessoa, foi considerado o ortónimo, já que era a personalidade original. Os três heterónimos mais proeminentes eram os que mais obra poética reuniam: Alvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Um quarto heterónimo também reconhecido era Bernardo Soares, autor da obra “Livro do Desassossego”, muito importante no século XX. Por ter muitas semelhanças com o próprio Pessoa, e não ser uma figura muito marcante foi dado como semi-heterónimo.

Todos os heterónimos têm data de nascimento e de morte, à excepção de Ricardo Reis. José Saramago escreveu posteriormente “O ano da morte de Ricardo Reis”, inspirado pela criação de Pessoa.

Álvaro de Campos (1890-1935)

Segundo a biografia elaborada por Pessoa para cada um dos heterónimos, sobre Álvaro de Campos, declarou que “nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica, depois naval. Numas férias, fez a viagem até ao Oriente de onde resultou o “Opiário”. Agora está aqui, em Lisboa em inactividade. Engenheiro, com educação inglesa, e de origem portuguesa sentia-se sempre um estrangeiro em qualquer parte do mundo.

Campos demarcou-se dos outros heterónimos, por ter vivido fases poéticas distintas. Ao todo foram três. Começa por ser um decadentista, mas logo se apoia no Futurismo: na chama fase sensacionista fez uma série de poemas de exaltação ao mundo moderno, do progresso técnico e científico, de evolução e industrialização da Humanidade. Seguidamente, assume uma direcção mais nilista ou o intimismo: a Fase Abúlica, e assemelha-se à temática abordada pelo Pessoa hortónimo: desilusão com o mundo, tristeza e cansaço, o que faz do poema “Dactilografia” em Poemas.

Ricardo Reis (1887-1935)

Nascido na cidade do Porto. Estudou num colégio de jesuítas. Formado em medicina. Expatriou-se de livre vontade para o Brasil. Latinista e semi-helenista.

Na poesia de Ricardo Reis emergem ideias do neoclassicismo. As suas preocupações intemporais, o receio da velhice, morte, angustiam-no e ele tenta porém encontrar estratégias para ludibriar o sofrimento perante todas estas ameaças, na poesia.

Alberto Caeiro (15 de Abril de 1889-1915)

É considerado o mestre dos heterónimos de Pessoa, apesar de fraca instrução. Poeta ligado à natureza, que despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosófico, afirma que pensar retira a visão. Anti-metafísico. Afirma que ao pensar é levado a um ambiente obscuro e incerto. Vê a realidade de forma objectiva e natural, versos de linguagem simples e familiar, e diz-se como um “simples guardador de rebanhos”.

Caeiro só se importava de vivenciar o mundo que captava pelas sensações e repudiava o pensamento metafísico.

“Creio mais no meu corpo que na minha alma...” Caeiro duvida da existência de algo como uma alma no ser humana, e guia-se pelo materialismo, pois crê no mundo exterior mais do que no mundo interior.

Andreia Silva

Nº6

12º K

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