segunda-feira, 3 de março de 2008

O actor, a máscara e o espectador

A propósito de uma ida à Comuna com as minhas turmas I, J e K ver uma representação do Livro do Desassossego de Bernardo Soares pelo actor Carlos Paulo:

O actor tem o rosto e tem a(s) máscara(s).
É (P)essoa e personna. A máscara é de cristal e ele tem inúmeras máscaras, que vai substituindo invisivelmente ante os olhos do público que vê as sucessivas máscaras mas não vê a mudança. Não vê por fora. Sente-a por dentro. Alguns espectadores sentem no ventre, outros no coração, na cabeça, no sangue, na mente, no estômago (às vezes como um murro) , na face (às vezes como um beijo).
O rosto do actor é de água e por ele escorrem mil emoções que um dia, como Ricardo Reis, entregará ao barqueiro. E que o público não vê. No final do teatro o actor retira a última máscara, mas a um olhar atento é ainda possível ver, a esconder-se, a última emoção. Por ela escorrem porque a ela acorrem mil rios de água doce. E disse:

Não recordo exactamente as palavras, mas o sorriso, a expressão de todo o rosto e do corpo e a voz, falaram do prazer do actor em ter tido tais espectadores. Por detrás do pano invisível da personagem, o actor viu e sentiu e agradeceu a total presença dos alunos e a sua emoção.
Sem palavras, eu agradeci por dentro a delicadeza e inteireza do actor que antes de se retirar para os bastidores deixou a sua marca naqueles alunos que nele silenciosamente deixaram a sua marca.
Momento de ouro.
Risoleta

Um comentário:

Anônimo disse...

Numa época em que tão mal se trata os professores, deveria o Ministério ler este blog...
rui